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Empresário limeirense participa de expedição ao RS

O ex-militar e hoje empresário Gesés Lamar participou de uma expedição humanitária para ajudar as vítimas da tragédia climáticas ocorridas em maio no Rio Grande do Sul. Junto a outras dezenas de pessoas, Lamar vivenciou um pedaço da crise que se instaurou no estado depois das enchentes. Nesta conversa que ele teve com a repórter Elisandra Monfardini, o empresário conta sobre a experiência do grupo que saiu de Limeira para estender as mãos aos gaúchos.

Gazeta - Nos conte um pouco da sua experiência de viajar para o RS?
Lamar - Foi um privilégio estar com a equipe de voluntários. A gente foi de coração, cada um com a sua atividade, sua profissão e muito levando uma palavra de conforto. Deu também já tinha ido para Brumadinho (na tragédia do rompimento da barragem em 2019). No Rio Grande do Sul foi devastador. A gente não imaginava que acontecesse tudo aquilo, com cidades destruídas e pessoas que perderam as vidas. Nos fomos com uma equipe de voluntários de Limeira e o que nós fizemos, conseguimos ajudar. Foi mais a questão da logística, porque não adianta mandar as coisas daqui para lá e não tem quem organize. Então esta foi nossa missão lá.

Gazeta - Vocês foram em quantas pessoas?
Lamar - Nós fomos em 20 pessoas. Saímos numa quarta-feira daqui e voltamos no domingo.

Gazeta - Por quais cidades vocês passaram?
Lamar - Nós ficamos na cidade de Encantado, Roca Sales e Mussum, que foram as cidades que mais foram devastadas, Canoas, onde deixamos o material que havíamos levado daqui. Em Encantado havia mais de 20 abrigos, que eram muito longe e que as pessoas não conseguiam chegar. Descarregavam água em alguns bairros e, em outros, não.

Gazeta - O que te motivou a se voluntariar para ajudar?
Lamar - A necessidade das pessoas. Graças a Deus, temos casa, uma cama para dormir, mas quanto àquelas pessoas, que são filhos do mesmo Pai e estão passando por necessidade. Hoje em dia eu não trabalho diretamente como bombeiro, mas ainda corre em minhas veias a vontade de ajudar.

Gazeta - Vocês também arrecadaram alimentos para levar? Lamar - A cidade de Limeira estava motivada para ajudar e nossa equipe conseguiu encher uma carreta para levar, alimentos, agasalhos, cobertores, rações para os animais. Ela teve dificuldade de chegar, por conta do trânsito, mas chegou. Foi gratificante ver o trabalho em conjunto, porque cada pessoa tinha uma especialidade em cada área, mas todo mundo se juntou para carregar o caminhão.

Gazeta - Quais foram as primeiras impressões que você teve quando chegou no RS?
Lamar - Tristeza. Me chocou, de verdade. Pois, eu já tinha ido para lá e aquela região era linda; muitas árvores, muitas casas bonitas, em estilo europeu completamente destruídas. E uma coisa que me chamou a atenção foi o cheiro . Um cheiro já desagradável com corpos de pessoas que morreram, além dos animais. Ver a destruição da natureza foi bastante triste para mim.

Gazeta - Qual foi o principal desafio que vocês encontraram? Lamar - O desafio foi sobreviver. A gente saiu daqui sem traçar um plano e chegando lá a gente precisou de ajuda de um grande empresário que nos disponibilizou um lugar para ficar. E outra coisa, o preconceito dos próprios moradores das cidades. Eles são muito resistentes às pessoas que vêm de fora.

Gazeta - Você sentiu este preconceito?
Lamar - Sim. Mas isso é no começo. Depois de algum tempo, eles quebram essa resistência e vão se abrindo, contando os problemas. Nossa equipe tinha enfermeiros, técnicos de enfermagem e psicólogos, mas eles não chegavam para conversar com a gente. Nós tínhamos que ganhá-los aos poucos para poder ajudá-los.

Gazeta - Você tem alguma experiência que você possa compartilhar?
Lamar - Foram algumas. Em um abrigo, eu conheci a dona Diva, uma senhora de 67 anos, e ela tinha as duas pernas, perdidas pela ação do diabetes. Na tragédia, ela perdeu o namorado e o filho e mesmo com toda esta dificuldade, ela tinha alegria para compartilhar com as pessoas do abrigo. Lá também, deu para ver que as pessoas, mesmo não sendo familiares, elas se tratavam como família. 

Lá também tinha um senhor de 97 anos, que passou por todas as enchentes que ocorreram no RS (a pior enchente, até então, havia sido registrada em 1941). E ele era lúcido e orientado. A nossa enfermeira, a Talita, teve uma preocupação com ele, mas ele estava super bem e tranquilo. Olhando para estes dois casos, a gente percebeu que o povo gaúcho tem muita força entre eles e que bom que o resto do país conseguiu enxergar isso.

Em um outro abrigo, chamado Nossa Senhora de Fátima, a gente foi com preocupação com as doenças que poderiam aparecer depois da enchente. A Talita fez até uma palestra, mas, ao final, eles disseram que estavam bem, que haviam conseguido se organizar, mas queriam que a gente orasse com eles. Isso foi chocante. Porque a gente viu que eles não estavam precisando de coisas materiais, mas sim de um momento de oração, pois ninguém ainda havia aparecido com este propósito. Neste sentido, o trabalho da Karina, nossa psicóloga, também foi fundamental. Com a experiência dela, foi possível ouvir as necessidades que não são palpáveis.

Gazeta - O que fica de reflexão desta viagem para você?
Lamar - "Ainda podemos acreditar nos seres humanos".

FOTO: 080624 - GESÉS NO RS - Redes Sociais
Empresário visitou cidades do RS junto à caranava humanitária; "ainda podemos acreditar nos seres humanos".

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