Criança com espectro autista é xingada dentro de ônibus
Era a primeira vez (e pelo jeito a última) que a garota andava de ônibus; mulher não gostou da cantoria da menina
O que era para ser um passeio prazeroso para uma criança, de 3 anos, com transtorno do espectro autista, se tornou um pesadelo, no começo da tarde de anteontem, em Limeira. Ela foi xingada por uma mulher desconhecida, que se irritou pelo fato da garota estar cantando uma música infantil. Um boletim de ocorrência de injúria foi registrado no 1º Distrito Policial (DP) de Limeira e a Polícia Civil passa a investigar para tentar identificar a autoria das ofensas.
A Gazeta conversou com a mãe da menina, durante a tarde de ontem. Mãe e filha voltavam para casa e embarcaram no ônibus da linha 8C, perto do shopping da região central. Feliz com a nova experiência, a garota, começou a cantarolar uma música infantil. "Ela me disse que estava muito feliz por andar de ônibus e começou a cantar "Boi, boi, boi. Boi da cara preta..... Até pouco tempo atrás, ela nem falava. Cantar para ela é uma forma de demonstrar felicidade", disse a dona de casa Sirlene Cristina Romera Santos, de 43 anos.
Foi o gatilho para uma mulher, de cerca de 50 anos, se levantar e começar a gritar com a mãe pedindo para que ela ficasse quieta. "Ela levantou e começar a gritar que era para eu dar um jeito de calar a boca da minha filha", alegou ela. Segundo a dona de casa, os outros passageiros também se levantaram para exortar a desconhecida. "Fomos para cima dela e eu disse que a minha filha era autista e que eu não acreditava que ela tivesse tido a coragem de falar uma coisa daquelas para a menina", exclamou.
Diante da confusão que se formou dentro do ônibus, a criança começou a ficar estressada e a chorar. "Ela percebeu que a confusão era por causa dela e começou a ficar estressada. Fui ao motorista e pedi para que ele nos levasse para uma delegacia. Mas, ele disse que iríamos para o Terminal Central Urbano (TCU), onde poderia procurar um guarda civil municipal", disse a mãe.
No entanto, ao chegar no TCU, ela foi atendida por um fiscal da empresa SOU Limeira. "Ele disse para que nós voltássemos para o coletivo que ele iria orientar o motorista para não permitir outros xingamentos daquela senhora", declarou. Não adiantou. Enquanto estava no terminal, a desconhecida ficou quieta. Porém, de acordo com Sirlene, a desconhecida voltou a xingá-la quando o ônibus voltou a circular. "Aí, ela começou a me xingar de desequilibrada. Que eu deveria cuidar da minha filha e fazê-la calar a boca", alegou.
FOI ATRÁS
Alguns minutos depois de sair do TCU, chegou a hora de desembarcar, na avenida Vereador Samuel Berto. Para a surpresa da dona de casa, a desconhecida desceu atrás e as ofensas continuaram a ocorrer, no meio da rua. "Ela dizia que a culpa da minha filha ser ‘assim’, era minha. Que era eu que não sabia educar a garota", relatou. A mãe disse à Gazeta que teve de dar um calmante para a garota, que chorava, gritava demais e chegou a passar mal. "Ela estava tão feliz de andar de ônibus. E essa mulher conseguiu estragar tudo", esbravejou.
INCLUSÃO
A dona de casa disse que registrou um boletim de ocorrência para fazer justiça pela filha. "Eu estava incluindo a minha filha à sociedade. Ela só queria se sentir incluída e conhecer coisas novas. Agora, está em casa, morrendo de medo de sair", lamentou Sirlente.
A dona de casa disse que a mulher poderia ter tido outra atitude. "Ela é mais experiente que eu. Deveria cantar junto com ela. Passar algo de bom. Agora, eu vou ter que colocar uma coleira na minha filha e pedir para ela segurar uma placa para as pessoas saberem que ela é autista. Isso não está certo. Estamos com medo. Não é só pela minha filha, mas por todas as pessoas com transtorno do espectro autista", finalizou a mulher.
"Trouxe essa situação humilhante à tona porque sei a dor que passamos e sei do trauma que isso representa para uma criança autista, que estava avançando em seu tratamento e agora pode retroceder".
O parlamentar repudiou a conduta da passageira que agiu com preconceito e discriminação e reiterou seu compromisso de lutar pelos autistas não somente com recursos, mas também com ações pautadas pelos relatos de familiares, como esse. "Isso é inaceitável, dói saber, dói imaginar o que essa mãe e essa criança passaram naquele momento", declara.
Murilo já apresentou vários projetos de lei que contemplam as demandas dos autistas em todo o Estado de São Paulo, destinou recursos para Limeira para ampliação do atendimento e reforçou que esse episódio registrado dentro de um ônibus mostra que a luta contra o preconceito ainda tem muitos desafios pela frente. "A luta pela inclusão precisa sair da teoria". Também voltou a defender a carteira de identificação, conforme previsto em um dos seus projetos, para a identificação das pessoas portadores de TEA em todo o território paulista.
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