
‘É uma vitória do povo preto e periférico’, diz Bruna Magalhães.
Moradora do Jardim Ouro Verde, filha do caminhoneiro Laurindo Magalhães e da empregada doméstica Sônia, Bruna é proprietária da Gráfica Magalhães, atua em causas sociais e é conhecida por intervir em pautas comunitárias nos bairros da periferia. “É algo inexplicável. Eu tô sem palavras. Ser mulher, pobre, negra, e assumir esse lugar… é uma vitória saber que a gente pode chegar onde quiser. Eu entendo o tamanho da responsabilidade que vem daqui pra frente”, declarou Bruna em entrevista exclusiva à Gazeta de Limeira.
Ela lembrou de sua trajetória nas eleições: em 2016 teve 401 votos; em 2020, subiu para 740; e em 2024 alcançou os 920 que agora a levam à Câmara. A escalada foi, segundo ela, resultado do trabalho contínuo nas comunidades.Entre as atuações marcantes está a solução para o problema de falta d’água no Recanto dos Pássaros, em 2024. “Foi uma das minhas maiores vitórias. Estavam há oito anos tentando resolver e não conseguiam. Eu fui lá, conversei com as pessoas e fiz elas entenderem que precisavam se unir. A fila para o mutirão de cadastro me emocionou. E ver a água saindo da torneira... foi real!””, disse. Outra demanda atendida por seu intermédio foi a instalação de brinquedos numa praça do Jardim Ouro Verde, um pedido antigo dos moradores.
Formada como técnica em informática pelo Senac e com graduação em Design Gráfico pela Unimep, Bruna financiou os estudos por meio do FIES e diz que seu envolvimento com políticas públicas começou cedo. “Sou fruto disso. Quando criança, depois da escola eu ia para o Centro Comunitário. Lá, conheci uma professora negra que me dizia: ‘Você pode ser o que quiser’. Aquilo me marcou. Cresci querendo devolver isso para a sociedade.”Ela diz que vai levantar a bandeira do empreendedorismo nos bairros. “Quero resgatar o brilho da juventude, ajudar pessoas que se acham perdidas a encontrarem uma forma de renda. Meu primeiro projeto como vereadora vai tratar disso.”
Bruna também pretende pautar a saúde da mulher, especialmente a endometriose, doença com a qual convive. “Eu quase morri por conta da endometriose. Aos 26 anos, perdi uma trompa. Mulheres precisam saber que sentir dor todo mês não é normal. Quero fazer com que esse assunto ganhe visibilidade.”
Segundo ela, o próprio prefeito Murilo Félix foi quem a ajudou a identificar a doença. “Na época ele não era prefeito ainda. Eu reclamei de uma dor, ele me ouviu com atenção e desenhou para mim o sistema reprodutor feminino. No dia seguinte, acordei na Santa Casa, após um episódio grave. Quando o médico disse que era endometriose, eu já sabia o que era — porque o Murilo tinha me explicado. Isso mostra o quanto precisamos de informação e política pública sobre saúde da mulher.”
Nos últimos dias, veículos de imprensa relembraram que Bruna foi ouvida como testemunha no caso da fraude do IPTU em 2022. Ela respondeu com firmeza: “Quero entender o que está por trás disso. Eu fui testemunha, não fui sequer indiciada. Entreguei meu celular, entreguei tudo. Fui elogiada pela minha coragem na época. E agora, quando estou prestes a assumir a Câmara, voltam com isso? Por quê?”, disse. Ela reforçou que pagou sua dívida do IPTU. “Dei uma entrada e parcelei o restante. Não cometi nenhuma fraude”, disse.
Bruna acredita que há uma tentativa de descredibilizar sua trajetória. “É muito fácil no Brasil jogar o rótulo: ‘é ladra, é isso, é aquilo’. Mas eu tô tranquila. A Justiça está comigo. Já provei que sou inocente. Não vão apagar a minha história.”Ela reforça que sua fé a mantém firme. “Eu coloco Deus em primeiro lugar. A Bruna que está chegando à Câmara é a mesma que ajudava famílias vulneráveis sem esperar nada em troca. O tamanho do desafio não me assusta. Estou pronta para enfrentar o que for preciso.”
A expectativa da posse é que ocorra nos próximos dias. Até lá, ela prefere manter a discrição, mas já trabalha nos bastidores para formar sua equipe de gabinete.“Vai ser um mandato diferente. Quero estar perto das pessoas, ouvir, visitar os bairros. Não tenho medo de colocar a mão na massa. E, principalmente, quero mostrar para meninas negras, pobres, da periferia, que é possível sonhar com um lugar na política. Eu sonhei — e cheguei.”
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