Uma história de superação e amor pela maternidade
Érica de Campos Bigon Cortez, fisioterapeuta e proprietária do Sundara Garden Spa, compartilhou sua emocionante história de maternidade em meio a perdas e desafios. O sonho de ser mãe sempre esteve presente na vida de Érica. Casada aos 30 anos, ela e o marido Bruno ansiavam por ter filhos. No entanto, a jornada da maternidade não foi tão fácil. Érica enfrentou quatro abortos espontâneos, cada um trazendo dor e frustração. A cada perda, a esperança de ser mãe diminuía. Mas Érica não desistiu.
“Sempre tive aquele sonho de princesa: namorar, casar e ter filhos. Foi quando conheci o Bruno e compartilhamos o mesmo sonho. Casamos e um ano depois decidimos começar a tentar. Foi quando engravidei pela primeira vez. Uma alegria enorme, contamos para toda a família e ansiávamos pelo bebê. No primeiro ultrassom, o médico nos disse que não conseguia ouvir o batimento cardíaco do bebê. Na hora eu não entendi direito, mas logo percebi o que ele quis dizer”, relata.
Para Érica, o aborto estava ligado a sangramento e dor. “Por uma experiência que minha mãe teve e me contou, essa era a imagem que eu tinha em mente. Foi quando descobri o que era o aborto retido, que é quando o bebê ainda fica na sua barriga e foi quando eu também passei pela minha primeira curetagem, que é o procedimento de raspagem da parede do útero”, disse.
A experiência foi traumatizante. Érica relata que o processo é feito na mesma ala da maternidade. “É tudo muito doloroso, as pessoas te perguntando sobre o bebê, ver outras mães e crianças na mesma ala e, para piorar, o anestesista não sabia que era um processo de curetagem e perguntou o nome do meu bebê. Fiquei muito revoltada com a falta de preparo e detalhe: em um hospital particular”, relata.
O casal decidiu tentar novamente depois de um tempo. “Mudei de médico, mas a segunda gravidez já veio com um certo receio. Decidimos não contar para muitas pessoas e nos resguardamos. Meu médico, na época, não passava muita confiança, me pedia muitos exames, me fazia esperar horas durante seus plantões e isso me deixava ainda mais insegura”, conta.
Érica procurou uma clínica e, ao fazer o ultrassom, veio a segunda notícia triste. “Eles não conseguiam ouvir os batimentos”, disse. Nessa gestação, Érica perdeu gêmeos. “Fui fazer a curetagem novamente, achei estranho que vários médicos passavam para me ver, me questionavam, às vezes me julgavam e tudo já era tão difícil. Fiquei horas para fazer o processo. Foi horrível”, relata.
Na terceira gravidez, Érica conta que não foi planejado. “Pensamos que, por não ser planejado, dessa vez ia dar tudo certo. Fiquei mais receosa, não contei para quase ninguém, mas me sentia mais confiante”, relata. Por conflito de agenda com o marido, ela foi fazer o ultrassom sozinha. “Pensei que estaria tudo bem, foi quando o médico parou de falar e naquele silêncio constrangedor eu já sabia que tinha perdido. Saí de lá desnorteada, liguei para o Bruno, mas foi tudo muito difícil. Eu perdi o chão”, disse.
Érica conta que o terceiro processo de curetagem foi menos traumático. “A médica foi compreensiva, perguntou como eu estava e que agora eu precisaria ao menos investigar o que de fato estava causando os abortos, já que este era o terceiro”, afirma. O casal decidiu investigar a causa das perdas e exames revelaram uma mutação genética que interferia na gestação. Em um exame simples, o diagnóstico poderia ter ajudado desde o início. “Demos um tempo, pensei em adotar, pesquisei muito sobre isso, mas pela primeira vez o Bruno me pediu para tentarmos de novo. Ele sempre me apoiou muito, nunca interferiu nas minhas decisões, por isso achei importante tentarmos de novo”, conta.
Com o diagnóstico de uma mutação MTHFR (indicativo de trombofilia), Érica iniciou um tratamento com medicações. Em 2019, ela engravidou pela quarta vez. A cada ultrassom, a ansiedade e o medo tomavam conta. Mas, com 12 semanas, veio a notícia que tanto esperavam: o coração do bebê batia forte. “Meu marido foi fundamental durante todo esse processo. Ele sempre me deu força e me apoiou em todos os momentos. A terapia também foi essencial para me ajudar a lidar com a dor dos abortos e a superar os meus medos”, reforça.
Vitória nasceu em fevereiro de 2020, trazendo amor e alegria à vida de Érica e Bruno. A pequena Vitória se tornou a realização do sonho de ser mãe, um sonho que quase foi adiado para sempre. "Quando vi o rostinho da Vitória pela primeira vez, foi como se o mundo tivesse se aberto em cores. Ela era a realização do meu sonho, a prova de que tudo valia a pena. Ser mãe é a melhor coisa que já me aconteceu. A Vitória é meu maior presente, minha fonte de alegria e inspiração. Temos uma sintonia surreal. Sou grata por cada dia que passo ao lado da minha filha. Ela é meu tudo", disse.
O nome foi escolhido pela sobrinha de Érica. “Até então, tínhamos escolhido outro nome, mas minha sobrinha apontou para minha barriga e disse que aquela menina se chamaria Vitória. Ela não conhecia ninguém com esse nome e isso nos emocionou muito”, afirma. Em meio à pandemia, Érica destacou que Vitória foi seu maior refúgio. “Passamos um ano em casa, aproveitei os primeiros meses, aprendendo a ser mãe e costumo dizer que ela veio para me salvar. Da pandemia, dos medos, de tudo”, disse.
Luto, superação e a força da maternidade
Recentemente, eles decidiram tentar novamente. “Queríamos que a Vitória tivesse o convívio com um irmão e este ano eu engravidei”, revela. “Quando decidimos que já era seguro, contamos para ela do irmãozinho e ela ficou muito feliz. Horas depois Érica sentiu uma cólica muito forte. “Quando fui ao banheiro tive um sangramento grave e perdi o bebê. Dessa vez foi diferente, ele não ficou no útero. Foi uma carga emocional muito grande”, conta. Questionada, ela disse que agora não pensa em tentar de novo. “Me preocupo com a idade e outros desafios que possam surgir. A Vitória entende que o ‘irmãozinho virou uma estrelinha’”, relata.
Érica reconhece a dor do luto pelos abortos espontâneos e a dificuldade de lidar com a frustração. Mas, ela encontrou força para seguir em frente e celebrar a maternidade, mesmo que de maneira diferente do planejado. “O Dia das Mães sempre foi muito difícil, por que eu gerei quatro bebês, eu me sentia mãe e, por mais que fosse espírita, era difícil entender o porquê de eu não poder abraçá-los. Era um misto de revolta e luto. Minha vó era a única pessoa que me presenteava no Dia das Mães”, disse. “Hoje as pessoas me perguntam se eu só tenho a Vitória de filha. Às vezes eu digo que sim, por ser mais fácil, mas, em meu coração, eu sou mãe de seis”, disse. Vitória pode ser reconhecida por ser uma bebê arco-íris. Os bebês arco-íris são crianças que nascem de uma mãe que sofreu anteriormente um aborto espontâneo ou que teve um filho morto prematuramente.
Érica compartilha sua história para conscientizar outras mulheres que enfrentam dificuldades na gestação. Ela defende a importância da investigação médica, do apoio psicológico e da busca por alternativas para realizar o sonho de ser mãe. “Por mais que eu seja uma pessoa instruída, eu sofri uma violência obstétrica muito grande e isso me traumatizou nesse período puerpério, além dos abortos. Foi só quando relatei tudo isso a diretoria do hospital que eu me senti aliviada, mas tudo isso me gerou traumas e no Bruno também”, disse.
Uma mensagem de esperança
A história de Érica é um exemplo de superação, resiliência e amor pela maternidade. Sua mensagem de esperança serve de inspiração para outras mulheres que enfrentam desafios em sua jornada para serem mães. "Quero que a minha história inspire outras mulheres que estão enfrentando dificuldades na gestação. Que elas nunca desistam dos seus sonhos. Mas essa é a minha história e cada um precisa passar pelo que precisa passar. Existe esperança para todas as mulheres que desejam ser mães. Não desistam de buscar ajuda e de lutar pelos seus sonhos. A fé me deu força para seguir em frente e acreditar que um dia eu seria mãe."
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