Médica e mãe: os desafios e ensinamentos na maternidade
Renata Zaccaria compartilha aprendizados do pós-parto à adolescência, e o valor do tempo de qualidade
"A mãe que trabalha fora tem um tempo muito curto com as crianças. Já as crianças ficam na escola em período integral. Então, o período que a gente tem junto deve ser aproveitado com dedicação exclusiva, desligando o celular, evitando conversa paralela. Nem que seja pouco, mas a dedicação exclusiva é melhor do que a mãe ficar o dia todo ocupada com afazeres e a criança, sozinha”. A fala é da médica e mãe Renata Zaccaria, que coordenadora do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do grupo Hapvida NotreDame Intermédica.
Renata também é professora doutora, tem mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina da Unicamp, com atuação junto ao Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), também da Unicamp. Tem especialização em Gravidez de Alto Risco e Abortamento de Repetição.
Ela dá dicas como profissional e mãe. “No meu caso, trabalho no hospital e no consultório. Como tenho tempo escasso, tento dar o máximo de qualidade para elas. A ciência nos mostra que esse tempo de qualidade facilita o aprendizado delas, trabalha a cognição e a capacidade motora na escola".
Uma dica para isso é fazer pelo menos uma refeição todos juntos. “Se não dá todo dia, como no meu caso com as meninas, a gente tenta pelo menos ter um dia de família na semana. Nesse dia, eu não trabalho e fico com elas, e aí a gente combina fazer alguma coisa juntas, como um passeio. Também pode envolver tarefas cotidianas, do lar, que eu procuro dividir um pouco com elas para a gente se integrar e conversar melhor. O tempo de qualidade, mesmo que seja pequeno, estreita o laço entre pais e filhos", ensina.
ESCUTAR É IMPORTANTE
"Nessa integração, recomendo que pais e filhos compartilhem informações e tirem dúvidas. Os pais devem ouvir os filhos, evitar críticas destrutivas e tentar enaltecer as qualidades. Esse tempo ajuda os pais a participarem mais do processo de aprendizagem da criança na escola. Uma relação positiva inclui escutar bastante o ponto de vista dos filhos. Hoje em dia, vejo pelas minhas filhas, a Rebeca e a Sophia, que são adolescentes e têm 14 anos, que elas têm uma opinião própria sobre vários assuntos, e isso é estimulado na escola. Ao escutarmos mais os filhos, criamos uma comunicação mais assertiva entre nós, uma relação mais confiante".
Ela explica que, ter filho é uma experiência única, como um mundo novo que se abre, novas responsabilidades, alegrias e muito medo também. “Durante a gestação, a paciente, muitas vezes, não consegue elaborar tudo isso. Mas chega o momento do parto e, após a visualização do recém-nascido, que a gente já coloca no ventre da mãe, sentimos que aí há uma mudança total, inclusive do modo de encarar as dificuldades. A maternidade é única e intensa, assim como a relação entre mães e filhos é muito forte e emocionante. Com o passar do tempo, parece que ela fica mais significativa, a gente tem um apego muito grande com eles".
MÃES DE ADOLESCENTES
"Por experiência própria, sinto que é um período desafiador, tanto no meu papel de mãe como para as adolescentes, que estão descobrindo o mundo. Há mudança de comportamento, de opinião. Nessa fase, também, a mãe quer estar muito próxima para fortalecer esse relacionamento de uma forma positiva. A psicologia nos mostra a importância do contato físico, dos abraços diários, de compartilhar uma tarefa da escola, uma brincadeira. Eu procuro escutar bastante para mostrar empatia, tentar solucionar cada problema que elas me trazem de uma maneira mais calma, nem que não seja bem isso que eu esteja sentindo", cita.
Para ela, os cuidados com a saúde mental são fundamentais e devem ocorrer desde a gestação. “Oriento praticar atividade física, como caminhada ou exercício aeróbico, alongamento, meditação, yoga ou pilates. O objetivo é promover relaxamento para diminuir um pouco a ansiedade natural dessa etapa da vida. Hoje, as gestantes pesquisam na internet antes de entrar na consulta, e isso gera muita ansiedade. É uma fase totalmente nova e que nós, obstetras, buscamos ser orientadores".
PÓS-PARTO E AMAMENTAÇÃO
Renata explica que o pós-parto traz muitas modificações físicas e hormonais, o que leva parte das gestantes a ter um sentimento de solidão, medo se a amamentação não está adequada, privação do sono, baixa autoestima e irritabilidade.
“Isso pode durar pelo menos 60 dias após o parto, e mexe muito mentalmente com as mulheres. Buscamos orientar as pacientes sobre essa etapa, mas, para algumas delas, há a necessidade do uso de medicação controlada".
Ela ainda reforça o incentivo à amamentação. “Para a criança, o leite materno protege contra a diarreia, infecções respiratórias e alergias; diminui os riscos desse recém-nascido ser, no futuro, hipertenso, diabético e obeso. A amamentação traz um contato maior da pele da mãe com a do filho, ampliando a interação entre eles. Já os benefícios maternos incluem o retorno ao peso da preconcepção. Reforço que a consulta ginecológica deve ocorrer anualmente", conclui a médica.
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