
Os desafios de uma mãe com o filho autista
“Ter que carregar na alma, os desafios de notar que seu filho não tem o mesmo desenvolvimento de outras crianças e ter a dúvida, o medo de reconhecer que ele é diferente, é ter sempre o receio das incertezas do futuro, de saber a verdade e enfrentá-la, por mais dolorosa que seja, desejando que tudo fosse diferente e que você estivesse enganada quanto aos fatos. Uma realidade difícil de encarar, mas necessária”. O relato é de Maria de Fátima dos Anjos, mãe do pequeno Josué dos Anjos Mendes.
Josué foi diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autismo), paralisia infantil e outras patologias. “Ele ficou internado na UTI, precisava de oxigênio e cheguei a ouvir dos médicos que ele não sobreviveria. Hoje, após muita luta e muito aprendizado, meu filho conseguiu andar com a ajuda de uma barra de ferro. Me tornei um pouco de enfermeira, fisioterapeuta, nutricionista, psicóloga e advogada. Aprendi a lutar por ele e por mim”, disse.
Para estimular a movimentação, Fátima aprendeu de todas as artimanhas, além de horas e horas de cursos online. “Minha vida é integralmente dedicada a ele. Não é fácil, mas eu tinha duas opções: me desesperava com a sua condição ou iria à luta. Decidi me agarrar aos 10% de chance que o médico disse que ele teria. Aprendi a transformar todos os “nãos” que eu levei em “sim, é possível”. Josué com apenas 5 anos tem mais de 75 processos na justiça. “Nada que conquistamos foi fácil. Nunca achei que teria essa força, mas a vida e o Josué me tornaram assim”, afirma.
Em um artigo muito emocionante, Fátima relata que “a aceitação demora um tempo para acontecer, o desespero inicia. A mãe não consegue mais se cuidar, como nas higienes básicas de sua vida. Não dorme e quando consegue, acorda em meio aos gritos do filho acometido pelo pavor noturno e sai pelas ruas, descalça, de camisola e dirige horas, até que seu filho se acalme e se organize internamente e depois, você acredita que acabou, mas não. Muitas vezes, o pai não aguenta, faz as malas e vai embora de casa, deixando esta mãe ainda mais insegura e amedrontada diante do diagnóstico que infelizmente, já fora decretado. As idas e vindas aos especialistas, solicitando a ajuda necessária, para que seu filho tenha dignidade em sua vida e desenvolvimento. O financeiro chega pesando os bolsos, e a economia piorando ainda mais a situação com os aumentos absurdos”, relata.
Hoje, Fátima relata que a rotina diária é intensa. “Com a ajuda da Defensoria Pública meu filho consegue ter um atendimento especializado na escola, ter medicamento a base de cannabidiol, fazer fisioterapia, equoterapia. É tudo milimetricamente planejado, por que ele não consegue esperar. Se eu saio com ele para comer um lanche, preciso ligar antes e pedir que o restaurante já deixe preparado. As poucas horas que tenho por dia consigo atender pacientes, pois sou psicóloga, e trabalho de forma autônoma vendendo artigos de vestuário. Se eu saio um pouco da rotina é muito difícil para ele, são crises fortes e se estou em local público, infelizmente as pessoas não entendem. Você espera pela tão sonhada inclusão, que só ocorre no papel”, afirma.
Fátima conta que Josué se comunica da sua forma. “Cada autista é único. Eu falo por ele, luto por ele e busco forças, muitas vezes, em mães que passam pela mesma situação que eu. Elas me entendem e a ajuda é mútua. Se eu puder dar um conselho a outros pais é que tenha fé, continuem persistindo, estudando e que não desistam. A recompensa vem pouco a pouco. A emoção e a alegria nos invadem, por assistirmos nosso filho quebrando barreiras e vencendo obstáculos. Olhar para essa criança e entender que ela precisa do seu carinho, do seu amor e cuidado e que talvez, eu acredito, Deus tenha lhe dado este dom. Dom de ser anjo, de ser a pedra rara, o colo, o abraço e assim, tenhamos que dizer: Que seja feita a Tua vontade Senhor e não a nossa”.
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