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‘Entender sobre o autismo é o primeiro passo contra o preconceito’  

 

Psicóloga infantil especialista em autismo comenta avanços e desafios no atendimento e na sociedade

 

Dados mais recentes estimam que, no Brasil, 2 milhões de pessoas têm autismo e uma importante orientação sobre o tema é a informação. “Entender sobre o autismo é o primeiro passo para acabar com o preconceito. Independentemente do nível de suporte, os indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) precisam ser tratados com carinho, atenção e respeito”. As informações são de Mara Marciene Custódio Oliveira, psicóloga infantil, especialista em autismo e intervenção precoce.
Neste 2 de abril, Mara, que também coordena o setor de TEA da Aril de Iracemápolis, ressalta que é importante compreender que as características que acompanham o TEA fazem com que o funcionamento do cérebro das crianças e jovens, assim como os mecanismos que envolvem o ensino e aprendizagem, ocorram de forma diferenciada. Por isso, é fundamental o conhecimento para o combate ao preconceito.
“É muito importante lembrar que o número de pessoas autistas aumentou por conta do avanço da ciência, que busca estudar e entender esse transtorno. Além disso, por conta desse avanço, as informações a respeito do TEA se tornaram mais acessíveis, e por conta disso, sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade”, comenta.
Hoje em dia o diagnóstico tem acontecido com maior embasamento teórico e maior facilidade. Segundo ela, o diagnóstico é clínico, pois ainda não existem exames que detectem o Autismo. “Quanto ao tratamento, temos maior número de profissionais capacitados e quanto antes o tratamento for iniciado, melhor será o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas com TEA, considero a Intervenção Precoce um grande avanço quando falamos de tratamento”, disse.

No atendimento no setor da Aril, cita Mara, a criança não precisa ter o diagnóstico fechado. “Na maioria das vezes as crianças chegam até a Aril sem o diagnóstico e com sinais sugestivos de TEA e assim realizamos a avaliação para elucidação do caso e enquanto isso a criança recebe estimulação. Aqui, na Aril, o diagnóstico acontece através de avaliação da equipe multidisciplinar, formada por Assistente Social, Nutricionista, Psicóloga, Fonoaudióloga, Pedagoga, Terapeuta Ocupacional e Educador Físico”.
Durante essa avaliação, através de ferramentas, é analisado se a criança preenche os critérios estabelecidos pelo DSM V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Após finalizada a avaliação, relatório da equipe é enviado ao médico Neurologista ou Psiquiatra da Infância para fechamento da hipótese diagnóstica. “Lembrando que somente o médico pode fechar o diagnóstico de Autismo”.

APÓS O DIAGNÓSTICO

Ao receber o diagnóstico de autismo, comenta a especialista, a família passa por um turbilhão de emoções que vão desde a aceitação até o início pela busca de profissionais que irão apoiá-los nesta jornada.
“Buscar terapias para Autismo com práticas baseadas em evidências científicas é muito importante e também entender que as intervenções utilizadas pelos profissionais que acompanham a criança e a família podem variar muito e, principalmente, que nenhuma criança é igual à outra. Então lembre: nada de comparar os resultados de uma criança com a outra”.

DESAFIOS

“Um dos maiores desafios enfrentados no tratamento do autismo se refere a demora no encaminhamento do paciente, de modo que, quando acontece, os sintomas podem estar consolidados dificultando a intervenção do terapeuta”, cita.
Geralmente os pais buscam ajuda quando os filhos já estão frequentando a escola. Isto ocorre porque nos primeiros anos de vida os sinais que indicam um possível risco de autismo não são facilmente identificáveis ou até são, mas os pais, familiares e médicos não dão a devida importância.
Sobre o atendimento na Aril de Iracemápolis, atualmente são famílias do município, sem custo nenhum, e realizadas avaliações e intervenções. “Crianças com e sem laudo recebem os atendimentos da equipe multidisciplinar e nosso objetivo é identificar os atrasos de linguagem e/ou desenvolvimento precocemente, assim iniciamos as intervenções para ensinar e promover habilidades para minimizar ao máximo a lacuna nos atrasos. Além das crianças, atendemos também adolescentes e adultos que participam de oficinas para que sejam trabalhadas atividades de vida diária, buscando sempre a autonomia do indivíduo e possível encaminhamento ao mercado de trabalho”. Esse trabalho é possível com apoio da Prefeitura de Iracemápolis e grande apoio da Usina São Martinho.

DIFERENTES NÍVEIS

Ela explica que, segundo o DSM-V, o grau de autismo é medido pela gravidade do comprometimento. “A maioria das pessoas com TEA têm algum nível de deficiência intelectual e o grau varia de leve(nível 1) à severo(nível 3), passando pelo moderado(nível 2)”. O autismo é classificado em 3 níveis:
Nível 1 de suporte – Leve: pouco apoio nesse grau de autismo, a pessoa necessita de pouco suporte, tem dificuldades na comunicação, mas sem que isto limite sua interação social. Problemas de organização e planejamento podem prejudicar a independência.
Nível 2 de suporte – Moderado: apoio substancial. O grau de autismo moderado apresenta déficits nas habilidades de comunicação verbais e não verbais, mas com menos intensidade do que o nível 3 (severo). Devido às dificuldades de linguagem, necessitam de suporte para o aprendizado e interação social.
Nível 3 suporte – Severo: apoio muito substancial. As pessoas com grau severo de autismo precisam de ainda mais suporte, pois apresentam déficits de comunicação graves. Também têm muita dificuldade nas interações sociais e capacidade cognitiva prejudicada. Tendem ao isolamento social e podem apresentar alta inflexibilidade de comportamento.
“Falando sobre atuação da equipe em relação aos níveis de suporte, embora seja importante adequar o tratamento ao nível de comprometimento, os planos de tratamento não devem ser separados rigidamente conforme o grau de autismo diagnosticado, justamente porque os quadros podem evoluir. Mas principalmente porque cada autista é único, tanto nos seus desafios quanto nos seus potenciais”.

ORIENTAÇÃO

A primeira orientação para as famílias é procurar ajuda profissional o quanto antes, pois, a precocidade dos tratamentos é determinante para o sucesso no desenvolvimento da criança. “Além disso é de extrema importância oferecer apoio a esses pais, para mostrar que eles não estão sozinhos”, conclui.

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