Mulheres devem ter livre acesso para buscar ajuda sem tabus
Ginecologista deixa orientações sobre a saúde da mulher em diferentes fases da vida
As mulheres devem ter livre acesso para buscar ajuda médica sem tabus. É o que orienta a médica ginecologista Renata Zaccaria, que é coordenadora do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do grupo Hapvida NotreDame Intermédica.
Renata deixa importantes orientações para os cuidados da saúde da mulher em diferentes fases da vida. A profissional é professora Doutora, tem mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina da Unicamp, com atuação junto ao Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), também da Unicamp. Tem especialização em Gravidez de Alto Risco e Abortamento de Repetição.
1 – O que é considerado normal no ciclo menstrual?
Consideramos um ciclo menstrual regular dentro de 25 a 30 dias. Quando o tempo é menor ou maior que isso, o ciclo é irregular. E a fase lútea, que é o pós-menstrual, é sempre fixa.
Num ciclo irregular, a pessoa tem uma variação da ovulação, que pode demorar muito para acontecer ou acontecer precocemente. Então, o que muda essa fase do ciclo ser maior ou menor que esses 25 a 30 dias, que é considerado regular, seria o tempo de ovulação.
2 – Quando suspeitar que algo não está normal? Quando buscar ajuda médica?
Quando há ciclos irregulares. Seria ou ausência da menstruação, que pode acontecer por diversos fatores anatômicos hormonais e até mesmo psicológicos, e nós vamos ter que buscar essa causa, ou quando há um excesso de menstruação, ocorrendo hemorragias e sangramentos exagerados. Por exemplo, as pessoas ficam menstruadas mais de 5 ou 7 dias, a qualidade de vida da pessoa cai.
As suspeitas surgem quando o ciclo menstrual está menor ou ausente. Por exemplo: a pessoa menstrua um dia, um dia e meio, ou até mesmo não menstrua naquele mês, ou quando ele está aumentando progressivamente. Nos casos de aumento, pode sinalizar patologias, como miomatose, endometriose e adenomiose.
3 – Há relatos de alterações menstruais após a infecção pela covid-19? Tem recebido pacientes com essas questões? Se sim, quais as mudanças?
Após a infecção de Covid-19, estamos recebendo a informação de que aumentou um pouco o ciclo menstrual. A hemorragia, por exemplo, pode ocorrer pelo uso do anticoagulante durante o tratamento da Covid-19. Mas também há 25% dos casos com ausência ou diminuição do ciclo menstrual.
O ciclo costuma se regularizar num prazo entre 30 a 90 dias, inclusive nos casos em que a pessoa acaba menstruando duas ou três vezes no mês.
4 – Qual o momento para iniciar o acompanhamento com ginecologista no caso de meninas mais jovens?
É quando a mãe começa a observar as primeiras modificações no corpo da menina, com aparecimento da pilificação na região genital, axila ou broto mamário. Isso começa, em geral, a partir dos 9 anos de idade, e a mãe deve levar a menina para uma consulta e fazer algumas avaliações para saber se a menstruação está perto de acontecer e se a paciente tem condições realmente de estar evoluindo para a menstruação.
Também vamos calcular a idade óssea, para avaliar o crescimento das crianças. Se a menina menstrua precocemente e já tem alterações ósseas, não vai ter uma estatura satisfatória. O mais recomendado é uma consulta anual com a ginecologista para exames e orientações.
5 – Quais as principais doenças que podem interferir na saúde da mulher especificamente? Quais principais orientações?
É muito amplo esse tema. A saúde da mulher inclui o pré-natal, já que a mulher tem que estar no seu melhor estado de saúde para poder engravidar. Se ela tem algum tipo de patologia, nós vamos ter que preparar para trocar essa medicação por algo que ela possa usar sem risco durante a gestação. Temos o exame de rotina, para prevenção de câncer de colo, de mama e até mesmo o câncer de intestino.
Costumo dizer que o ginecologista funciona como um ‘clínico geral’ das mulheres. Quando há alterações hormonais, como na tireoide e na vitamina D, e mudanças nos exames de rotina, o primeiro contato das pacientes mulheres é com a ginecologista.
A Ginecologia engloba a questão da saúde da mulher como um todo, começando na menarca, a primeira menstruação. A seguir, nós cuidamos da gestação, que, se for de alto risco, terá um acompanhamento especializado. Depois tem a rotina, a prevenção do câncer, cólica menstrual e algumas queixas que a pessoa tem ao longo da vida.
Até que chega a menopausa. Então, a Ginecologia acompanha a mulher dos 9 anos de idade até a fase de idoso.
6 – Quais os sinais da menopausa para mulheres? Quando buscar apoio médico nesses casos?
Qualquer modificação de fluxo, de odor, calor e outros sintomas é um sinal. Comumente, os sinais da menopausa começam com calor, que vem do tórax para a cabeça, várias vezes ao dia. Dependendo do clima, parece que a pessoa está chegando perto de uma fogueira.
Ela causa dor no corpo, indisposição, deixa cabelo e pele mais secos e a unha, quebradiça. Também há o esquecimento, pois afeta a parte cognitiva, além de alterações de fluxo menstrual, em geral para menos. Ocorre ainda a queda da libido.
A menopausa marca o envelhecimento da mulher. As mulheres de 45 anos de idade em diante têm que ficar atentas. Recomendo uma consulta semestral para acompanhar o início dessa transição do climatério para a pré-menopausa, para que seja uma transição tranquila.
7 - É seguro suspender a menstruação por longos períodos? Por que?
É seguro sim. Os métodos mais novos hoje, que são os implantes de braço e de útero, suspendem a menstruação porque eles têm um tipo de hormônio, os progestágenos, que trazem menos risco para as mulheres. A maioria das patologias que a Ginecologia trata, como a miomatose, adenomiose e endometriose, exige a suspensão da menstruação, num procedimento feito com acompanhamento médico e que pode exigir medicação.
8 – Antes de engravidar, quando é o momento de já procurar orientações médicas?
Engravidar é um planejamento em conjunto. A mulher deve procurar a ginecologista com, no mínimo, 3 meses de antecedência, para uma orientação pré-gestacional. Ela fará exames de sangue, imagem, útero, ultrassom, sorologias e verificará a parte endócrina.
Também podemos orientar quanto a algumas medicações que previnem a má-formação do bebê.
9 – As mulheres estão buscando mais ajuda médica nessa área?
Sim, as mulheres hoje em dia têm mais acesso ao ginecologista, que é uma área básica. Reforço: ginecologista é um clínico geral das mulheres, e todo mundo tem que ter acesso pelo menos a cada 6 meses ou a uma visita anual. As campanhas de esclarecimento, com apoio da mídia, geraram essa tendência de procura, nas redes pública e privada de saúde. Buscar ajuda médica está cada vez mais comum para qualquer paciente, independentemente de sua condição cultural, social ou profissional.
10 – Cada vez menos, consultar-se com um ginecologista tem deixado de ser um tabu?
As mulheres têm que ter livre acesso, sem ser um tabu para elas procurarem o ginecologista. O médico ginecologista está ali para ajudar nas questões preventivas, que acompanham a vida toda da paciente.
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