Após dois anos, igrejas voltam a ter celebrações presenciais na Páscoa
Durante a Quaresma, os cristãos foram convidados a exercitar virtudes e viver de forma adequada este período de espiritualidade. Após dois anos de pandemia, as igrejas voltaram a solenizar as tradições de forma presencial. Neste domingo de Páscoa, data em que se celebra a ressurreição de Jesus Cristo, o Padre Diego Henrique Miquelotto, da Paróquia Menino Jesus enfatiza a importância do amor para com o outro. “O amor pode ser uma das maiores lições do tempo da Páscoa. Mesmo sendo um sofrimento gigantesco, o Senhor não hesitou em passar por ele, por amor a nós e se doando para nos dar uma nova vida”, disse. As igrejas da Diocese de Limeira receberam seus fiéis nas missas e celebrações da Semana Santa e hoje, Domingo de Páscoa, podem festejar juntos, a ressurreição de Jesus Cristo.
Qual a reflexão mais importante sobre a Páscoa?
Eu acredito que a maior reflexão que a Páscoa nos traz é de fato o amor de Jesus por cada um de nós. A Páscoa sabemos que é a ressurreição de Cristo, porém ver a ressurreição e para este acontecimento, é preciso que o Cristo sofra e morra na cruz para nos dar a salvação, para nos libertar da morte, do pecado e nos trazer uma nova vida. O amor pode ser uma das maiores lições do tempo da Páscoa. Mesmo sendo um sofrimento gigantesco, o Senhor não hesitou em passar por ele, por amor a nós e se doando para nos dar uma nova vida, um novo significado de vida, uma vida livre da morte, livre do pecado, uma vida que jorra e nos liberta e nos impulsiona para a vida eterna.
Após dois anos de isolamento social, a Semana Santa assumiu um significado diferenciado?
Eu diria que não um significado, mas talvez um valor um pouco maior. Nos dois anos que nós não nos reunimos fisicamente, muitos sentiram o quão importante é poder celebrarmos e muitos sentiram falta de poder ir à Igreja, de estar na Igreja e de celebrar os mistérios da Paixão de Jesus. Talvez este ano muitos valorizem mais este momento, neste sentido de que ao ficarem longe da Igreja, viram como foi ruim e como foi algo que fez falta em suas vidas. Este ano, a Páscoa assume não talvez um significado por completo, mas sim o valor. Participaremos com maior empenho de todos os momentos, valorizando nossa Igreja e valorizando as celebrações e a Semana Santa de um modo geral.
A Igreja teve que se adaptar com as celebrações virtuais, como foi nessa Semana Santa?
Primeiramente quando tudo se fechou é claro que para o Igreja foi uma grande dificuldade. Nós tivemos que nos adaptar com os meios de tecnologia e comunicação. Muitos não tinham o aparato necessário e nem as equipes, então de fato, foi um grande momento de readaptação e de aprendizado. Neste ano, nessa Semana Santa, eu acredito que está muito mais fácil, primeiramente por que as Igrejas estão abertas, então as pessoas podem vir presencialmente, mas muitas paróquias continuarão com as transmissões online e uma atenção maior ainda com algum idoso, algum enfermo, ou alguém que tenha comorbidade e que não possa vir. Nessa Semana Santa foi muito mais tranquilo nesse sentido e agora já sabemos como fazer, pois já temos equipamentos mais adequados e uma equipe mais preparada. O mais assustador foi no primeiro ano da pandemia que fechamos as igrejas nas vésperas da data e tivemos que rapidamente nos organizarmos para darmos conta de transmitir tudo pelos meios de comunicação.
Neste ano, a campanha da fraternidade trata um tema importante que é a educação, como a Igreja pode ajudar nessa questão?
O tema da campanha quer iluminar a sociedade, o mundo acadêmico, as famílias de um modo geral para o amor e o carinho. A própria campanha vai dizer no seu lema que é “Fala com sabedoria, ensina com amor”. A Igreja quer levar a sociedade um pouco dessa reflexão de que no aprendizado não importa qual categoria seja, todos devem ser tratados com amor e com dignidade. Todos devem ser tratados como ser humano. Todos devem ser tratados numa lógica de onde o ser humano é o mais importante, é o centro das relações e do aprendizado e de tudo que nós fazemos. Não podemos ser tratados como descarte ou como algo passageiro. O ser humano tem sua própria dignidade. A Igreja com esse tema quer iluminar a sociedade para que os lugares de educação sejam de uma forma especial de mais amor, de entendimento, de carinho, de respeito e de dignidade. O Caminho do Saber. A educação não é somente na escola, é na família, no grupo de amigos, na comunidade, então em todos os ambientes precisamos educar o outro com sabedoria e fazer com que cada vez mais cuidemos uns dos outros. É só assim que conseguiremos uma sociedade mais humana, com mais respeito e mais dignidade, como é o ensinamento e o plano de Jesus para todos nós.
A Quaresma tinha uma tradição mais rigorosa nas gerações passadas. A Igreja vem trabalhando com essas mudanças?
Na verdade, as tradições rigorosas nunca deixaram de existir. O povo é que às vezes se perdendo pelo que o mundo oferece, acaba deixando de lado as tradições, mas a Igreja nunca abandonou aquelas que são suas tradições, como o jejum, a oração, a penitência, a abstinência e várias outras práticas rigorosas que nos ajudam a viver bem nesse tempo da Semana Santa. Eu diria que a Igreja continua vindo com a mesma mensagem de que é preciso praticá-las para uma boa vivência na Semana Santa e também do tempo da Quaresma que é o tempo que antecede a Semana Santa. A Igreja vem trabalhando nesse sentido de educar, orientar e propagar as suas doutrinas e sem nenhum momento se furtar de falar aquilo que é o correto, que é o verdadeiro e ainda que seja rigoroso e muitas vezes não aceitável. Eu diria que mais do que a Igreja deixar de falar ou de ter deixado esse rigorismo é que muitas vezes o mundo oferta outros caminhos que chamam a atenção das pessoas e que acham que aquilo que a Igreja ensinava não era preciso, não era importante e não é verdadeiro. Prova disso é que muitos dos católicos verdadeiros, praticantes e que vão as missas todos os domingos continuam fazendo essas práticas. Elas ainda existem e são importantes. Esta é a nossa missão: continuar sempre valorizando nossas raízes, nossos ensinamentos e não deixar de ensinar o nosso povo.
Em tempos de conflitos internacionais, como a Paixão de Cristo inspira exemplos a serem seguidos?
Acredito que a Paixão de Cristo nos inspira no exemplo do amor e do cuidado para com o outro. Nos inspira que o mal nunca é superior do que a vida e nos ensina que a ganância nunca nos leva para perto de Deus. Na cena da entrega de Jesus, o próprio Judas o vende por moedas de prata e ao ver que o que havia feito não significava nada, ele se mata jogando as moedas foras, porque percebe que a ganância não o levou a lugar algum. Então celebrar a Paixão e os Mistérios de Cristo nestes tempos de conflitos internacionais, é ver que a guerra, a morte e a ganância sempre nos afastam de Deus. Que o Senhor nos dá o exemplo maior que é o do amor para com o outro e os líderes mundiais deveriam seguir este exemplo: o exemplo do cuidado, do amor e do carinho para com os outros. E todos aqueles que estão à frente desses países estão ali para cuidar com zelo do povo e inspirar-se em Jesus. É preciso olhar para o povo e ver neles um pouco da face de Deus e tratá-los com carinho e respeito pedindo que o seu governo possa levar dignidade a todos. A Paixão de Cristo nos inspira nisso, que tudo aquilo que não nos aproxima de Deus como a ganância, o poder e a guerra são elementos que nos afastam do real significado da Páscoa.
Como viver esse momento de celebração em tempos tão difíceis?
Eu acredito que precisamos viver com piedade e viver com seriedade. O mundo é difícil. Passamos uma pandemia, estamos enfrentando no mundo todo uma guerra que indiretamente nos atinge. Todos nós temos problemas familiares, momentos a vencer e a lutar na nossa vida diária. E para celebrar esse Ministério de Cristo nesses tempos difíceis é preciso viver com serenidade. Ver em Cristo uma inspiração para vencermos nossas dores, ver em Cristo este exemplo de amor, de entrega, de doação total e ver que nossa vida então foi amada por ele, nós somos amados por ele e sentindo-se amados encontramos forças para lutar e para enfrentar as dificuldades. O Cristo não fugiu de nada, enfrentou tudo pacientemente confiando sempre e totalmente em Deus, seu pai. Assim também devemos ser nós: confiar nossas dores e tristezas a Deus e saber que Jesus sempre caminha conosco e viver com serenidade esse tempo nos ajuda e muito a enfrentarmos nossas dificuldades e a vermos que a vida em Deus é maior do que tudo que podemos ter neste mundo.
Qual sua mensagem de Páscoa aos fiéis?
Como mensagem de Páscoa deixaria essa ideia que falamos ao longo da entrevista. A Páscoa é tempo de vida nova, é tempo de celebrar o amor, de reconhecer em Jesus a salvação e o amor por cada um de nós. Celebrar a Páscoa é deixar que a força de Cristo habite em nossos corações para sermos novos homens e mulheres. Deixar de lado o pecado e os vícios que nos impedem de amar mais a Deus e deixar de lado algumas práticas que não nos aproximam Dele. Com a força renovadora da Páscoa que possamos deixarmos renovar por Jesus o nosso coração, os nossos sentimentos, nos tratarmos com mais carinho para sermos mais irmãos uns dos outros e buscar formar um mundo de paz, de justiça e de igualdade.
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