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Mulheres ocupam 17% das cadeiras legislativas na região

Um levantamento feito pela Procuradoria Especial da Mulher da Câmara de Limeira revela que apenas 17% das cadeiras legislativas da Região Metropolitana de Piracicaba são ocupadas por mulheres. Das 24 cidades que juntas somam mais de 1,5 milhão de habitantes tem 47 vereadoras e 228 vereadores.

O dia 24 de fevereiro de 1932 entrou para a história como o dia em que o direito ao voto passou a ser uma possibilidade para as mulheres em todo o país. Mais de 77 milhões de brasileiras devem votar nas próximas eleições, em outubro, representando 53% do eleitorado brasileiro.

Além do direito a votar, as mulheres conquistaram o direito de ser votadas e a luta em ocupar cargos legislativos ainda avança em pequenos passos. “Somos a maioria dos eleitores brasileiros, mas ainda somos pouco representadas no poder legislativo da nossa região. Precisamos incentivar a participação das mulheres na política”, destaca a vereadora Mariana Calsa. Em Limeira, dos 21 vereadores, 6 são mulheres.

A vereadora Isabelly Carvalho, foi a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira no legislativo de Limeira. “Para as mulheres, em especial, o voto e as decisões concretizadas a partir do processo eleitoral, tem impacto direto em suas vidas, em seu dia a dia. O racismo estrutural que afeta a vida de nossas mulheres tão profundamente que celebrar uma data como a de hoje só lhe é possível para refletirmos sobre o quanto ainda precisamos lutar. Afinal foi uma mulher, a primeira presidenta deste país que oficializou esta data que era mais um símbolo abafado pelo machismo. Hoje, com esse direito igualado aos homens, temos um papel fundamental no processo de redemocratização e retomada de tantos direitos aviltado de nós mulheres no decorrer desses últimos quatro anos. As mulheres podem mudar nossas vidas e este ano, mais uma vez, mudar nosso futuro”, disse.

A vereadora Constância Félix enfatizou que a data traz grandes reflexões e que a faz aplaudir as lutas das mulheres nas diferentes sociedades. “Votei pela primeira vez no ano de 1975 com 18 anos, e desde aquele momento me senti realizada como cidadã por poder fazer a diferença em nossa sociedade. Mesmo passados 90 desde que a mulher obteve o direito ao voto, sua representatividade na política ainda é baixa. Esta luta permanece atual, a desigualdade e desrespeito com a mulher não acabou, e sim, é refletida nos espaços de poder. Sofri muito preconceito ao longo dos anos, sendo desrespeitada inclusive nos momentos em que ocupava a tribuna para discursar e ou defender meus ideais, mas não desisti, faço tudo por amor, vou à luta para que cada dia mais, nós, mulheres possamos fazer história”, disse.

A vereadora Tatiane Lopes também falou acerca da conquista do direito aos votos pelas mulheres. “Apesar de termos avançados nas últimas décadas em termos de representatividade feminina na política, sabemos que nossa participação no espaço público ainda é muito pequena. Um dos maiores desafios é que a estrutura de poder é historicamente dominada por homens e isso pode intimidar as mulheres que queiram participar da política. Além disso, pelo simples fato de sermos mulheres, temos de “provar” que somos tão capazes quanto os homens o tempo todo para que possamos ser respeitadas. Contudo, também temos avanços com o cada vez mais crescente número de mulheres se envolvendo no debate público e isso me dá esperanças de que num futuro breve teremos realmente condições iguais entre homens e mulheres”, disse.

A vereadora Terezinha da Santa Casa enfatizou que o voto feminino é um importante marco na luta das mulheres por igualdade de seus direitos.  “Muito se fez para chegarmos até aqui, mas os desafios continuam em todas as áreas, talvez, a grande batalha ainda está relacionada à ocupação de espaços de poder. Deixo aqui, registrada, neste dia, minha gratidão e reconhecimento às mulheres desbravadoras que lideraram as primeiras conquistas feministas e às atuais que se mantêm firmes em seus ideais. Meu agradecimento aos que acreditaram e depositaram sua confiança em mim e deram seu voto e têm me apoiado, visando sempre o melhor para a população”, disse.

A vereadora Lu Bogo destacou que a cada legislatura, as mulheres conquistam mais espaço e, a tendência é crescer. “Hoje, estamos em seis vereadoras e contamos também com uma vice-prefeita, o que mostra a nossa força, representatividade e credibilidade na força e trabalho da mulher. Enquanto mulher e vereadora, hoje, estamos com mais espaço e somos mais ouvidas. Somos criteriosas na hora de escolher os nossos representantes. Buscamos analisar o histórico das pessoas e avaliar suas propostas. Acredito que somos a maioria das eleitoras e arrisco dizer, que nosso voto é que define os resultados das urnas. Mas, isso não quer dizer que somos prioridade. Pelo contrário, para conquistar nossos direitos precisamos de muita luta e trabalho. Somos nós, com nossa experiência e conhecimento que cuidamos de nossas casas, de nossos filhos e famílias e, por nossa avaliação buscamos representantes que tenham perfil de pessoa acessível, eficiente, trabalhadora”, disse.

Os dados levantados pela Procuradoria Especial na região ainda apontam que dos 275 vereadores na Região Metropolitana de Piracicaba, 47 são mulheres. Em nenhuma das cidades, as vereadoras são maioria. Em Iracemápolis, por exemplo, nenhuma mulher foi eleita.  Em Cordeirópolis, dos 9 vereadores, 2 são mulheres. A cidade com maior índice de parlamentares femininas é Águas de São Pedro, onde dos 9 vereadores, 4 são mulheres.

Limeira teve uma das primeiras prefeitas nomeadas no Brasil

Maria Teresa Silveira de Barros Camargo foi uma das primeiras prefeitas do Brasil, nomeada na cidade em 1934 e em 1936 também foi uma das primeiras deputadas em âmbito estadual. A viúva do Dr. Trajano de Barros Camargo, que assumiu os negócios da família na época, tinha sangue político em suas veias. A neta do ex-presidente Prudente de Morais nasceu três dias antes da sua posse, sendo inclusive batizada no Palácio do Itamaraty.

A conquista do voto feminino no Brasil veio muito antes da data em que se comemora seus 90 anos. A luta se iniciou por volta de 1910. Segundo Ricardo Oriá, consultor legislativo da Câmara dos Deputados, seguindo uma tendência mundial do movimento feminista sufragista, a professora carioca Leolinda de Figueiredo Daltro, em protesto à recusa de seu pedido de alistamento eleitoral, fundou o Partido Republicano Feminino, o primeiro partido político feminino do país.

Um dos grandes nomes da luta pelo voto feminino, Leolinda sofreu perseguições, chegando a ser chamada de “mulher do diabo”. “Nesse contexto, não podemos esquecer a emergência do movimento feminista, tendo à frente a professora Maria Lacerda de Moura e a bióloga Bertha Maria Júlia Lutz, que fundaram a Liga para a Emancipação Internacional da Mulher”, conta.

O presidente Vargas, simpatizante da causa, sobretudo no tocante ao direito de voto promulgou em 1932 o novo Código Eleitoral, cuja comissão de redação contou com a participação de Bertha Lutz.

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