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Repercussão sobre os R$5,5 mi questiona outros serviços públicos

Reclamações apontam áreas

que necessitam de investimentos

 

Gisele Carvalho

 

A repercussão negativa sobre a aprovação do projeto que autoriza a Prefeitura a destinar até R$ 5,5 milhões à Sancetur continua em evidência e, revoltada, a população tem procurado a Gazeta para pontuar alguns transtornos que vem ocorrendo em diversas áreas.

 

HOSPITAL DA CRIANÇA

A secretária Claudete O. Santos explica que a notícia sobre o fechamento do Hospital da Criança causou bastante preocupação. “Sempre levo meu filho, de quase dois anos, nesse hospital. Constantemente ele tem crises respiratórias e acho o atendimento bom porque, além de atender só crianças, lá tem o aparelho de raio-x, o que agiliza o diagnóstico. Geralmente sou atendida rapidamente. E se realmente for fechar, vou ter problemas porque as UBSs ficam bem fora de mão para mim e acho bastante inviável leva-lo na Santa Casa porque o atendimento demora demais”, lamenta.

Nas redes sociais há diversos comentários acerca do assunto. “Vejam há quanto tempo este hospital está funcionando em nossa cidade. Somos referência, até o povo das cidades vizinhas vem para cá. Quanto à localização, todos os ônibus passam no centro, já nos bairros o acesso é mais difícil. Sem contar que a farmácia também é perto. Já que eles querem investir, poderiam melhorar ainda mais o mesmo hospital”, diz um deles.

A Prefeitura já informou que para diminuir custos o Hospital da Criança realmente vai fechar e o atendimento pediátrico estará disponível no Pronto Atendimento do Jardim Aeroporto, Abílio Pedro e Parque Hipólito. No entanto, com o valor da verba, de R$5,5 milhões, que será repassada à empresa de ônibus, o Executivo conseguiria pagar 30 anos e seis meses de aluguel do prédio deste hospital. Vale lembrar que o Hospital da Criança possui especialistas próprios para a saúde da criança e infraestrutura direcionada apenas ao atendimento infantil, evitando, assim, que a criança tenha que ser encaminhada a um hospital ou pronto atendimento não especializado e não exclusivo ao uso infantil.

 

CESTAS BÁSICAS

Ainda pensando sobre a verba usada para subsidiar uma empresa privada, o montante [R$ 5,5 milhões] também seria suficiente para elevar para R$ 300 o valor do cartão-alimentação pago às famílias em situação de vulnerabilidade. Se considerados os R$ 101,80 pagos atualmente, o montante aprovado daria para comprar 55 mil cestas básicas.

R.S. V., que trabalha como estoquista em uma loja, disse que com esse valor não consegue comprar tudo que vem na cesta básica.  “Em um supermercado do meu bairro, o pacote de 5 kg de arroz custa R$ 35,00. Eu não tenho condições de me deslocar até um mercado com itens mais em conta. O ideal seria aumentar o valor ou voltar a entregar a cesta-básica mesmo”.

 

PANDEMIA

Já comparando com os gastos na área da Saúde, o prefeito Mario Botion gastou mais com a empresa de ônibus do que com saúde do limeirense na pandemia. Do orçamento bilionário da Prefeitura, R$ 33 milhões foram usados na crise da Covid-19 no ano passado. Para a Sancetur foram R$ 39 milhões.

“Não acho justo gastar mais com uma empresa do que com a nossa saúde. Quando tive Covid precisei de internação, mas não tinha nenhum leito e também não tinha oxigênio, sofri muito, precisei ficar de bruços em casa. Fui diversas vezes para o hospital com muita falta de ar e, em uma delas, me informaram que deveria tomar uma injeção na barriga por três semanas, mas o hospital não tinha esse medicamento, então, acabei não tomando porque o custo era muito alto, mais de mil reais”, relatou o vendedor D.S.R.

O deputado Murilo Félix lembrou durante uma entrevista que os mais de 7 mil servidores municipais, inclusive os que fizeram plantões e escalas intensas de trabalho na linha de frente da pandemia, estão há quase três anos sem reposição inflacionária em seus salários.

Ainda pensando nos efeitos da pandemia, é certo que os valores pagos à Sancetur poderiam ter ajudado empreendedores de Limeira, tanto com microcrédito quanto com programa de refinanciamento de dívidas para amenizar os impactos financeiros. Diversos comerciantes e empresários fecharam as portas e não conseguiram se reerguer. O Bar da Montanha, por exemplo, após 21 anos em Limeira, encerrou suas atividades durante a pandemia. “Por meses tentamos manter o bar, mas com as restrições impostas naquele período, fomos obrigados a fechar as portas”, lembrou o empresário Evandro Negrucci.

 

AUTISTAS

 

Conforme a Gazeta já informou, desde janeiro do ano passado mães já falavam de dificuldade em conseguir atendimento no Centro de Especialização Municipal do Autista (Cema), além da falta de especialistas. São crianças autistas que estão na fila de espera e sem previsão de atendimento. “Enquanto espero uma vaga para meu filho poder ser atendido no Cema, ele teve uma crise e deu um soco na porta de vidro, que chegou a trincar. Graças a Deus, nada de grave aconteceu”, relata a mãe de uma criança com autismo, de 7 anos. Ela preferiu não ser identificada.

A mesma mãe comentou na publicação sobre a aprovação dos R$5,5 mi: “dinheiro para isso a Prefeitura tem, não é mesmo?”.

  

Conselho Municipal de Educação

repudia aprovação de subsídio

 

O Conselho Municipal de Educação (CME), em conjunto com o Conselho de Acompanhamento e Controle Social (Cacs) - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), enviou na tarde de ontem uma nota de repúdio à aprovação do projeto que realoca os R$5,5 milhões da Educação. No documento, as entidades reiteram que têm apontado ao Poder Público queda nos investimentos dos recursos municipais em Educação em Limeira. “Em 2016 o investimento chegou a 31% dos recursos e, desde 2018, esse percentual oscilou em torno de 26%, representando um investimento menor que 6 pontos percentuais”.

“No último ano, houve a indicação de planejamento adequado para o cumprimento dos investimentos obrigatórios, previstos em lei, em Educação. Os colegiados apontaram preocupação com a destinação planejada e adequada da verba da pasta, que já vinha apresentando uma tendência de arrecadação crescente. Estes colegiados ponderaram por diversas vezes com o Secretário Municipal de Educação, que as inúmeras demandas das escolas necessitavam ser supridas, dentre elas, a retomada e expansão da escola de tempo integral, especialmente para os alunos do Ensino Fundamental; reforma e manutenção de prédios; compra de materiais pedagógicos; equipamentos tecnológicos; aumento de vaga em creche; contratação de servidores; investimento em formação e valorização do quadro do magistério e servidores da Educação, dentre outros, que inclusive, se constituem no Plano Municipal de Educação”, cita.

“Estes conselhos entendem que, após o agravamento da situação educacional devido á pandemia, em que nossos estudantes ficaram privados e frequentar a escola, muitos deles sobrevivendo em situação de vulnerabilidade social, alimentar, de proteção física e psicológica; o investimento da Educação necessita urgentemente ser suplementado, acrescido e jamais subtraído, sob pena social e moral de deixar uma geração em situação precarizada, conforme apontam estudos realizados por organizações reconhecidas, como Unesco e Unicef. No Caso específico da Educação Municipal, são crianças dos anos iniciais, em fase de alfabetização e outras aprendizagens essenciais para progressão escolar, diminuindo assim a vulnerabilidade, desigualdade e pobreza”.

 

 

 

 

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