Origem cultural do Natal: como é comemorada a festa no mundo
Independente dos costumes ou crenças, o Natal simboliza um momento fraterno e festivo, marcado pelas luzes, adornos, presentes e reuniões familiares. Mas você já se perguntou de onde surgiu a tradição de comemorar o dia 25 de dezembro? Scarlett Dantas, professora de História explica a origem da tradição cultural natalina, seus significados e símbolos de uma das festas mais populares do mundo. Conheça as diferentes datas em que se celebra o Natal pelo mundo, além das diversas histórias por trás da figura do Papai Noel.
A historiadora esclarece que a celebração do Natal, com esse nome, teve início no século IV, quando a Igreja de Roma escolheu o dia 25 de dezembro como a data do nascimento de Cristo. No hemisfério norte, o dia 25 de dezembro se tornou uma data simbólica, uma vez que é o dia do solstício de inverno e indicava o renascimento de Mitra (associada ao sol), como chamavam os romanos “Natalis Solis Invicti”. Naquela época, foi criado o primeiro canto natalino, ‘Veni Redemptor Gentium’.
Em virtude da diferença entre os calendários vitoriano e gregoriano e da importância dada à “Epifania”, a especialista revela que no oriente os cristãos comemoram o Natal nos dias 6 e 7 de janeiro. Em outros lugares, onde o cristianismo não se desenvolveu de forma notável, como nos países de tradição islâmica, judaica e budista, não há grandes comemorações pelo nascimento de Cristo.
AS MIL FACES DO PAPAI NOEL
Segundo Scarlett Dantas, o Papai Noel é uma mistura de tradições. Uma delas é a de São Nicolau, um cristão grego, que viveu no Império Romano entre 270 e 343 e se tornou bispo de Mira. Em virtude dos relatos de milagres associados a ele, São Nicolau foi canonizado e é reverenciado como santo na Igreja Católica e Ortodoxa. “Muitos de seus milagres estão vinculados à prática da caridade, às doações e à ressuscitação de crianças. Em decorrência disso, 6 de dezembro foi consagrado à troca de presentes e às crianças. ‘São Nicolau’, ‘Saint Nicolas’ e ‘Sinterklaas’ significam o mesmo nome em diferentes origens”, destaca.
A historiadora também cita o “Father Christmas”, tradição britânica que remonta ao século XV. Essa figura é associada a um velhinho bem-humorado e gorducho, que usava roupas com peles vermelhas ou verdes e que gostava de bebida, comida e música. Em virtude dos conflitos religiosos do século XVII, os puritanos teriam tentado eliminar todas as tradições e heranças culturais consideradas católicas. “O Natal foi proibido pelo parlamento britânico em 1644, sendo restaurado 16 anos depois. Como o Father Christmas não tinha vinculação direta com um santo, sua figura se popularizou, entre puritanos e católicos. No Brasil, o nome ‘Papai Noel’ está vinculado ao ‘Papai Natal’, como é chamado em Portugal.
Já no ocidente, a figura do Papai Noel foi disseminada nos Estados Unidos, declara Scarlett. Devido à presença de imigrantes, essas heranças folclóricas e de diferentes tradições se misturaram e transformaram na primeira metade do século XIX, a figura de Santa Klaus. A professora menciona o poema “A visit from Saint Nicholas”, mais conhecido como “The Night Before Christmas”, do estadunidense Clement Clarke Moore, que apareceu pela primeira vez em 1823 e se tornou popular na época. “Ele foi o responsável por conceber a figura do Papai Noel, inclusive a ideia de que ele se transporta em um trenó puxado por renas voadoras”, explica.
TRADIÇÕES DE PRESENTEAR
Nas festividades da Saturnália havia o oferecimento de presentes entre os convivas e, segundo o Evangelho de Mateus, os Três Reis Magos trazem ouro, incenso e mirra para o menino Jesus. Contudo, a associação do Natal com a troca de presentes foi relativamente tardia, remontando à literatura do final do século XIX. Acredita-se que, de forma acidental, o protestantismo teve um papel importante na vinculação da troca de presentes no dia 25: “As festividades de dias de santos católicos foram por eles desencorajadas e, por isso, a oferta de presentes para crianças católicas realizada no dia 6 de janeiro teria migrado para 25 de dezembro”.
DECORAÇÃO NATALINA
Dantas afirma que povos germânicos anteriores ao cristianismo já cultuavam árvores em sua mitologia. No que se refere à tradição natalina e cristã, as árvores se difundiram com a Reforma Protestante, sobretudo nas regiões da atual Alemanha. A primeira referência é da região da Alsácia e data de 1521, sendo sua popularidade das árvores vinculada aos invernos rigorosos da região. Porém, a disseminação do costume foi gradual: “A primeira árvore de Natal no Vaticano, por exemplo, só foi montada em 1982 pelo fato de o papa João Paulo II ser polonês. Desde o século XIX, tornou-se comum adornar o topo da árvore ou com uma estrela – representando Belém – ou um anjo – representando o anjo Gabriel”.
USO DAS GUIRLANDAS
Scarlett relata que a guirlanda é uma adaptação de práticas antigas de adornar residências com ramos ou galhos de plantas perenes que mantinham sua cor e vitalidade mesmo durante o inverno. Esse costume simbolizava a exaltação da exuberância da natureza e a fertilidade. Segundo a especialista, estes elementos representam o nascimento de Cristo e geralmente contam com as figuras de Jesus, Maria, José, os três reis magos, o anjo Gabriel, um burro (representa a humildade) e uma vaca (representa a paciência ou os sacrifícios de animais descritos no Antigo Testamento). Os sinos entram na celebração como instrumentos musicais e luzes decoram portas, janelas e as próprias árvores.
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