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Golpe do amor: especialista explica como se proteger

O estelionato sentimental é um nome novo para uma prática criminosa antiga e que ganha impulso com as redes sociais. Vítimas procuram reparação na Justiça — os casos podem levar à indenização por danos materiais e morais e alguns terminam até em prisão. 

Em um caso recente, segundo a Agência Estado, a história de um estelionatário que enganava mulheres por meio de aplicativos de relacionamento ganhou repercussão no país. Renan Augusto Gomes, de 35 anos, foi preso por aplicar golpes em sites e redes sociais. Ao menos sete mulheres já haviam registrado queixa formal contra Gomes até a quinta-feira, 29, na capital e no interior. Uma das vítimas de Gomes chegou a ter prejuízo superior a R$ 200 mil. 

Histórias desse tipo não são incomuns: só na Justiça de São Paulo, há dezenas de processos contra homens que fingiam ter planos de relacionamento para enredar mulheres em uma trama de dívidas. Ações na Justiça tentam provar, por meio de extratos bancários e fotos de conversas na internet, que as vítimas desse tipo de abordagem sofreram não apenas um golpe financeiro, mas também tiveram prejuízos emocionais. Ou seja, foram induzidas a acreditar em um relacionamento que, na verdade, era apenas de fachada.

Não há ainda um levantamento robusto sobre o perfil das vítimas de estelionato sentimental, mas a maior parte dos casos mapeados na Justiça paulista envolve mulheres enganadas por homens. Em muitas ocorrências, o relacionamento chega a ser duradouro e só depois de meses, quando já desembolsaram milhares de reais, é que as vítimas percebem o golpe. 

Ana Cristina Ribeiro Alves utilizou a literatura como ferramenta de conscientização sobre os casos de estelionato sentimental na internet. Oficial do Ministério Público e especialista em Direito Público e Direito Privado, ela escreveu sobre o assunto no livro “Eu confiei nele”. Além de explicar como esses crimes ocorrem nas redes sociais, a autora também aborda a importância da denúncia e propaga mensagens positivas a partir da história de uma vítima que superou o trauma. 

Em entrevista, a escritora dá detalhes sobre a obra, cita os principais canais de denúncia, ressalta a necessidade de uma rede de apoio às pessoas que sofreram golpes e explica como o crime costuma acontecer. Leia: 

O que é o “golpe do amor” e como ele pode ser identificado no meio virtual?

É a conduta criminosa praticada por alguém que esconde sua verdadeira identidade, valendo-se na maioria absoluta dos casos do meio virtual, no qual, usando técnicas de persuasão linguística e explorando algum tipo de vulnerabilidade, induz a pessoa a uma dependência emocional, direcionada à obtenção de lucro financeiro em prejuízo da vítima. 

Se uma pessoa é vítima do estelionato, o que ela pode fazer para denunciar? E o que as pessoas ao seu redor podem fazer para acolhê-la?

A vítima pode procurar a Polícia Militar (caso de flagrante) e Civil, além do Ministério Público. Há uma ferramenta gratuita no site www.infotracer.com, na qual é possível descobrir o IP do e-mail suspeito. Se ele estiver fora do Brasil, é possível utilizar o site www.usa.gov, com ligação ao FBI. Já as pessoas ao redor podem ouvir a vítima, evitando julgamentos desnecessários e estimulando-a a práticas saudáveis e edificantes. 

“Eu confiei nele” foca na história de uma vítima de estelionato sentimental na internet. O que a levou a tratar desse assunto por meio da ficção?

Em primeiro lugar, foi a necessidade de dar voz às vítimas que não tinham coragem de procurar as autoridades policiais, com o receio de que o golpe viesse a público. Segundo, para mostrar os sinais apresentados pelos golpistas, como forma de prevenção. Por último, para mostrar que é possível a superação e recuperação da autoestima.

Durante a história, você descreve os principais sinais de alerta desse tipo de crime, mas também lança um olhar para a situação de vulnerabilidade das vítimas. Qual a importância desse acolhimento para o público que sofreu esse golpe?

A natureza do golpe virtual do amor provoca consequências devastadoras na dignidade e autoestima da vítima, fazendo-a, muitas vezes, sentir-se inútil e até mesmo ridícula. A vulnerabilidade existente antes do golpe é agravada, sendo, às vezes, alimentados pensamentos suicidas. O acolhimento familiar, dos amigos e até mesmo de órgãos da Assistência Social, irá ajudar na superação do trauma. 

Para além do golpe, você apresenta uma narrativa de superação, de uma mulher que conseguiu se livrar de muitos traumas. De que forma essa perspectiva positiva pode ajudar a reconstruir a autoestima dos leitores que se identificam com a protagonista?

Nossa mente se alimenta daquilo que oferecemos a ela: se insistirmos em recordar coisas negativas, não sobrará espaço para as positivas. No caso da personagem, o novo aprendizado ocupou a mente dela, com redirecionamento das energias gastas nas lembranças e lamentações a respeito do golpe. E sentir-se capaz de fazer algo novo e desafiador acabou com a ideia de inutilidade, resgatando a autoestima. 

Por que devemos falar mais sobre o estelionato sentimental?

Porque é uma forma criminosa que cresce a cada dia, em um ambiente chamado por muitos de “terra de ninguém”, já que, apesar de existirem normas regulamentando as relações virtuais, nosso país ainda apresenta déficit em relação à estrutura necessária para identificar e punir os golpistas, além da deficiência na assistência às vítimas, ainda consideradas, por muitos, culpadas pelo golpe sofrido.

 

 

Com assessoria de imprensa

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