Endometriose e saúde mental: existe uma relação?
Uma em cada dez mulheres é diagnosticada com endometriose no Brasil. A doença inflamatória atinge cerca de 6 milhões de mulheres com idade entre 13 a 45 anos. Cerca de 57% delas, sofrem de dores crônicas e mais de 30% dos casos levam à infertilidade. Os dados são da Sociedade Brasileira de Endometriose e o alerta é da ginecologista obstetra especialista em fertilidade, Milena Goes, que atua na Santa Casa Saúde Piracicaba.
De acordo com ela, a endometriose é uma doença benigna que ocorre quando o tecido endometrial, aquele que reveste a camada interior do útero, se implanta fora da cavidade uterina ou em outros órgãos da pelve como trompas, ovários, intestino e bexiga. Ela provoca cólicas intensas e os diagnósticos têm se tornado cada vez mais comuns. "A camada do endométrio se forma todos os meses, a cada ciclo, para receber um embrião, fruto de uma gravidez; mas quando ela não ocorre, no final do ciclo, o endométrio descama e é expelido na menstruação", explica Milena.
As causas da endometriose, de acordo com a ginecologista, ainda não são bem esclarecidas. "Existem diversas teorias, como alterações imunológicas, inflamatórias, estresse oxidativo e transformação celular. Mas uma das principais teorias seria a da Menstruação Retrógrada. Nela, o sangramento menstrual pode não ser totalmente eliminado pela vagina. Uma parte desse sangue pode refluir pelas trompas e cair na cavidade abdominal, causando as lesões endometrióticas", explica.
Segundo Milena, não existem métodos para prevenção da endometriose e as causas desse comportamento ainda são desconhecidas. O que se sabe é que há um risco maior de desenvolver endometriose se a mãe ou irmã já sofrem com a doença.
Entre os sintomas que acometem mulheres com endometriose estão as dores: cólicas em intensidades variadas, podendo ser incapacitantes; dor durante da relação sexual; dor em toda a região pélvica. "Em algumas pacientes a doença pode estar presente na bexiga e na parede do intestino, causando dor para urinar e dor ao evacuar durante a menstruação", enfatiza Milena.
"Como fator complicador, a endometriose pode desencadear dificuldade para engravidar e infertilidade e, em todo esse processo de dores, infertilidade, sofrimento e fadiga crônica poderá desencadear um quadro de depressão", alerta a médica.
O diagnóstico da doença é realizado inicialmente com a anamnese, história clínica e exames físicos. O tratamento da paciente vai depender de vários fatores. "Por isso é importante reforçar que o acompanhamento, nesses casos, deve ser multiprofissional. Buscar ajuda de profissionais especializados como psicólogos, fisioterapeutas pélvicos, nutricionistas traz muita melhora dos sintomas. O cuidado com a saúde é muito importante. É recomendável que quando iniciam as primeiras menstruações a menina faça uma primeira consulta ao ginecologista e que esse acompanhamento e o autocuidado sejam um hábito em sua vida", salientou Milena.
Não é possível prevenir o desenvolvimento da endometriose, segundo a ginecologista, mas a adoção de hábitos saudáveis e um acompanhamento adequado são importantes na manutenção da qualidade de vida e na atenção com os primeiros sintomas. "Quanto antes diagnosticada aumentam as chances de melhores resultados", finalizou.
Qual a relação entre endometriose e saúde mental?
Segundo a Sociedade Brasileira de Endometriose, a ansiedade, o estresse e os outros distúrbios emocionais interferem negativamente nos quadros de qualquer dor crônica, como é o caso da endometriose. Numa perspectiva física, um corpo estressado e ansioso torna-se incapaz de regular adequadamente os processos inflamatórios do organismo. Já na perspectiva emocional, a ansiedade e o estresse também alteram negativamente a percepção que as mulheres têm da dor e também de si mesmas. Os dois cenários estão diretamente ligados à ocorrência e manutenção de quadro de depressão e outras doenças emocionais.
Ao longo da busca pelo diagnóstico e tratamento dos sintomas da endometriose, a mulher acaba lidando com sentimentos que, muitas vezes, são despertados por gatilhos emocionais após situações mais angustiantes ou traumáticas, como uma resposta demorada ou um sentimento de desamparo pelas pessoas mais próximas. Entre os sintomas emocionais e sentimentos despertados pela endometriose estão: ansiedade, estresse, nervosismo, medo, raiva, frustração, solidão, sentimento de incapacidade e depressão.
É importante contar com o apoio de outros profissionais da saúde. Eles irão contribuir muito para o tratamento. A adoção de atividades físicas regulamentares impacta no bem-estar e auxilia na amenização das dores, portanto, conte também com os educadores físicos como aliados nesse processo.
Corpo e mente precisam estar em equilíbrio. O tratamento dos sintomas físicos e o acompanhamento emocional devem andar juntos, afinal, são codependentes. A sua mente precisa estar bem para que o tratamento da endometriose traga bons resultados. Procure suporte psicológico para dialogar sobre suas dores emocionais. Nessa imersão, é possível que terapeuta e ginecologista desconfiem de alguma patologia mental e indiquem um psiquiatra para aprimorar o diagnóstico e prescrever medicações. Acompanhamento psicológico e psiquiátrico não é mais tabu, afinal, saúde mental deixou de ser um assunto marginalizado e passou a ser uma das prioridades da vida moderna.
Com assessoria.
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