Foto de capa da notícia

Morre Gal Costa, dona de uma das maiores vozes do Brasil

O Brasil recebeu uma triste notícia na manhã de ontem. Morreu a cantora baiana Gal Costa, aos 77 anos. Ainda não há divulgação da causa da morte. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa. Gal estava em recuperação de uma cirurgia de retirada de um nódulo na fossa nasal direita e teria que ficar longe dos palcos até o final deste mês. A operação aconteceu em setembro, após Gal se apresentar no Festival Coala, em São Paulo. A cantora já tinha na agenda marcada para a turnê As Várias Pontas de Uma Estrela, que deveria ocorrer em dezembro e janeiro de 2023.

Nascida 26 de setembro de 1945, em Salvador, Bahia, Maria das Graças Penna Burgos era filha de Arnaldo Burgos e Mariah Costa Penna. Sua ligação com música veio ao trabalhar como balconista. Foi nesses frutíferos anos 1960 que ela conheceu João Gilberto, que a classificou como a "maior voz do Brasil". Nessa fase passou a ter contato com seus grandes parceiros de arte de vida, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil.

A voz de Gal Costa foi um marco na música brasileira. A forma como ela chegava com folga às regiões mais altas e seu timbre de cristal se tornaram uma das identidades artísticas mais fortes da MPB desde os anos 60, e seu poder de romper padrões quando bem dirigida era sua marca.

Em Domingo, seu primeiro álbum, de 1967, Gal foi dirigida por Caetano Veloso. Havia ali a afirmação de sua obsessão por João Gilberto ao mesmo tempo em que os dois apontavam para o seguimento de uma linhagem de canto ‘joaogilbertiano’ modernizado. Coração Vagabundo, Avarandado, Um Dia e a própria Domingo, com arranjos de cordas, fizeram sua bela estreia, mas não a revelaram por inteiro. Gal tinha mais a mostrar.

Um ano depois, Gal, firmava-se como a voz feminina dos tropicalistas, algo que a posicionava ao lado do grupo renovador da música brasileira. Ela aparecia em três momentos no álbum coletivo Tropicália - Panis et Circencis, cantando Mamãe Coragem (de Caetano Veloso e Torquato Neto), Parque Industrial (de Tom Zé), Enquanto Seu Lobo Não Vem (de Caetano) e, algo que se fixaria a sua imagem com mais força, Baby (também de Caetano Veloso).

Sua discografia mapeia momentos políticos graves do país. Fatal - Gal a Todo Vapor, de 1971, mostra o registro de um dos shows realizados no teatro Tereza Raquel, no Rio, dirigidos por Waly Salomão. Sem os parceiros Gil e Caetano, exilados em Londres, Gal construía outro ponto incontornável em seu crescimento.

Gal conseguiu adentrar e passar pelos anos 80 com vitórias importantes. Ao contrário de artistas que penavam para transpassar o portal tecnológico imposto pela nova estética radiofônica logo no início da década (as rádios FM se tornavam um novo filtro), Gal foi absorvida imediatamente. Seu álbum de 1981 é um clássico dos tempos, com Canta Brasil; Meu Bem, Meu Mal; Faltando Um Pedaço; e a eterna Festa do Interior. Gal estava por todas as rádios, em trilhas de novelas e lançando discos quase sempre irretocáveis.

Assim que chegou 2011, quando Gal não parecia mais ter mais nada a provar, Caetano voltou a dirigir um álbum inteiro. O resultado foi Recanto, com uma cantora que parecia se reposicionar esteticamente.

Mas Gal só estava mais uma vez sendo ela, imprevisível, irrepetível, abandonando as expectativas que faziam sobre o que poderia ser seu álbum para entregar-se a uma sonoridade ruidosa e muitas vezes difícil até como base harmônica para se colocar a voz. Seu timbre e seus agudos já ganhavam outro corpo, mas sua alma seguia fazendo cada nota que escolhia ser a nota perfeita.

 

Com informações da Agência Estado

Comentários

Compartilhe esta notícia

Faça login para participar dos comentários

Fazer Login