Símbolo: quadro de Pedro Américo ficou três anos guardado
Não há obra de arte que simbolize mais a história do Brasil do que Independência ou Morte, óleo sobre tela do pintor paraibano Pedro Américo (1843-1905), principal atração do Museu Paulista desde a inauguração, em 1895. A imagem histórica retratada no quadro — D. Pedro com a espada erguida naquele 7 de setembro de 1822, na beira do córrego do Ipiranga, em São Paulo, num gesto épico que marcou oficialmente o rompimento do Brasil com Portugal e o nascimento do novo país – sempre ofuscou detalhes surpreendentes em torno da obra que boa parte dos brasileiros desconhece.
Encomendada por D. Pedro II, a gigantesca obra (7m de largura por 4,16m de altura, obviamente maior que o quadro de Moreaux) ainda passou por vários percalços até ser instalada no Museu Paulista. Quando o pintor a trouxe ao Brasil, em meados de 1889, o prédio que hoje abriga o museu não estava pronto. Além disso, no final de 1889, houve o golpe militar que derrubou a monarquia e proclamou a República; com isso, o edifício em construção no Ipiranga virou um problema.
Diante do impasse, Pedro Américo, que havia exibido o quadro pela primeira vez numa mostra individual na Itália pouco antes de trazer a obra ao Brasil, tentou levar a tela para uma exposição em Paris, mas não obteve autorização. Com isso, a tela ficou enrolada e guardada numa sala da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, acumulando pó. O pintor só conseguiria tirá-la do limbo em 1893, quando Independência ou Morte integrou o pavilhão brasileiro da Exposição Universal, realizada em Chicago (EUA) para celebrar os 400 anos da chegada de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo, em 1492. Um dos principais eventos do século 19, a Exposição Universal foi visitada por mais de 27 milhões de pessoas nos seis meses de duração.
A obra, porém, não retrata exatamente a cena em que D. Pedro proclamou a independência. O grito ocorreu num dia em que D. Pedro vinha de Santos, montado num burro (animal mais adequado para a subida da serra), sofrendo com problemas intestinais. O local, ao lado do córrego do Ipiranga, estava tomado pelo mato, sem nenhum glamour, quando um emissário interceptou a comitiva e entregou a D. Pedro uma carta da Imperatriz Leopoldina e de Bonifácio de Andrada, informando das ameaças da Corte de Lisboa para o príncipe deixar o país e ir para Portugal.
Pedro estava cercado de 15 homens da Guarda de Honra, todos com o uniforme sujo de lama. Documentos históricos atestam que D. Pedro deixou claro que era a hora de o país se separar de Portugal. E só. Na obra, Pedro Américo montou um cenário épico, com soldados vestindo uniforme de gala dos Dragões da Independência (destacamento que não existia na época de colônia), montados em cavalos imponentes, em posição de combate. D. Pedro aparece vestido com um traje de gala como se estivesse num baile da Corte, rodeado por dezenas de pessoas, entre soldados, índios e religiosos.
O exagero do artista, que chegou a visitar o local do grito do Ipiranga antes de pintar a tela, fazia todo sentido – a simbologia da cena em que nascia um novo país era mais relevante que a acuidade do cenário original. Pedro Américo buscou inspiração em outra tela portentosa, 1807, Friedland, pintada pelo artista francês Ernest Meissonier, entre 1861 e 1875, para homenagear Napoleão.
A tela foi também reproduzida em selo pelos Correios, no verso de uma moeda de 10 centavos, numa cena do filme homônimo de Carlos Coimbra, de 1972 (que tinha o ator Tarcísio Meira no papel de D. Pedro) e até em revistas da Turma da Mônica. Em 2022, no ano do Bicentenário da Independência, a obra de arte mais famosa da história do Brasil vai oficialmente entrar na era digital, servindo de cenário de fundo para selfies de visitantes do Museu Paulista.
As informações são da Agenda Bonifácio, uma plataforma online criada pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que reúne e apresenta toda a programação cultural relativa ao Bicentenário da Independência do Brasil. Várias histórias e acervos estão reunidos na página. Basta acessar o link: https://agendabonifacio.com.br/
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