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Doação de órgãos: multiplique e doe vidas

Um único doador pode salvar inúmeras vidas. O assunto ainda é um grande tabu entre as famílias, mas a comunicação é fundamental, já que apenas eles podem autorizar a doação de órgãos. Hoje, 27 de setembro, o Brasil estipulou o Dia Nacional da Doação de Órgãos, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância do gesto, considerado um ato de amor ao próximo. 

Segundo a Unicamp, as filas de espera para receber um órgão ainda são longas e foram agravadas ainda mais pela pandemia. Em 2021, foram realizados mais de 12.000 transplantes no Brasil através do Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje existem no país 51.674 pacientes adultos ativos (junho 2022) e mais 1.009 pacientes pediátricos na lista nacional de espera para transplantes. 

Entre os órgãos que podem ser doados, o coração e o pulmão são os que possuem o menor tempo de preservação extracorpórea: de 4 a 6 horas. Fígado e pâncreas vêm em seguida com tempo máximo para transplante de 8 a 16 horas e os rins podem levar até 48 horas para ser transplantados. Já as córneas podem permanecer em boas condições por até sete dias e os ossos até cinco anos. 

LIMEIRA 

O coordenador do Departamento de Neurocirurgia e coordenador da Comissão Interna de Doação de Órgãos e Tecidos da Santa Casa de Limeira, Dr. Marcelo Senna enfatiza: os países com maior taxa de doação de órgãos são aqueles onde o tema é mais divulgado. "Quanto mais este tema está na discussão nos lares e nas rodas de amigos, a população fica familiarizada sobre o assunto e a doação ocorre com mais frequência", explica.

A doação depende de vontade manifestada do doador. Por isso, a família deve estar ciente de que este gesto é um desejo do paciente. No momento de uma internação, a pré-abordagem inclui essa demonstração de vontade.

A captação de órgãos acontece a partir do momento que é confirmada a morte encefálica do paciente por meio de exames realizados para fechamento do diagnóstico do paciente. A Santa Casa registra uma média anual de 8 captações de órgãos. No Hospital Unimed Limeira, em 2021 foram 3 doadores que beneficiaram mais de 10 pessoas. Neste não houve captação ainda. 

O protocolo envolve diversos setores, como direção técnica, gerente de enfermagem, serviço social, equipe multidisciplinar, portaria e segurança, nutrição, CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes), supervisores de enfermagem de unidades e comunicação externa/interna.
Alguns órgãos, como córneas, são passíveis de doação em caso de paciente sem batimento cardíaco. A maioria, que inclui rins, coração, pulmão, fígado e pele, exige o coração em atividade. É nesta situação que a conscientização da família é importante.

Diante desta constatação de ausência de sinais clínicos cerebrais, a família é comunicada e inicia-se uma investigação criteriosa e que envolve exames realizados por duas equipes médicas diferentes. Diante da inexistência de sinais de funcionamento do cérebro, são realizados os demais exames de imagens que vão atestar o óbito. Com o diagnóstico, a família é avisada e questionada sobre a doação dos órgãos. Se neste momento não houver a autorização, o médico é obrigado, por lei, a assinar o atestado de óbito e os aparelhos desligados em seguida, sem o aproveitamento de órgãos que podem salvar vidas.

Em caso de autorização, é verificado se o estado clínico do paciente é compatível para doação, como temperatura corporal e nível de oxigenação. Preenchidos os requisitos, a Santa Casa comunica o Hospital das Clínicas da Unicamp, central de referência em transplante de órgãos. O comando nacional é avisado e levanta-se os locais de destino dos órgãos. Toda a captação e transporte é conduzida pelos profissionais capacitados da Unicamp.

Os procedimentos adotados pela Santa Casa para captação de órgãos são avaliados periodicamente, em razão da instituição ser Hospital de Ensino. Podem ser doados, de forma geral, coração, pulmão, fígado, rim, pele, osso, córnea, pâncreas e medula óssea, mas todo o procedimento só é possível com a manifesta vontade do doador e autorização. Por isso, conversar sobre o assunto com a família e os amigos é um gesto de amor que mobiliza uma rede preparada e capacitada para salvar vidas. 

Projetos em tramitação no Congresso 

Incentivar a doação é o objetivo de vários projetos que tramitam no Congresso. Uma proposta em análise é a do senador Humberto Costa (PT-PE), que estabelece o sistema de doação presumida, pela qual todo brasileiro passa a ser considerado doador. Hoje, é a Lei 9.434, de 1997, que regula a doação, e exige o consentimento da família, com autorização por escrito, para a realização do transplante. 

A proposta prevê ainda que a pessoa que não deseja dispor de seus órgãos, tecidos ou partes do corpo para a doação deve solicitar a gravação da expressão “não doador de órgãos e tecidos” em documento público de identidade. Para quem não possui o documento, caberá à família decidir sobre a doação.  

“A doação presumida não obriga ninguém a doar, mas, ao contrário, estimula que a discussão sobre o tema seja feita, ao requer, de cada cidadão, a tomada de decisão, o mais precoce possível, quanto a ser ou não um doador de órgãos, uma vez que a omissão implica concordância em doar”, explica o autor do projeto. 

Pela lei em vigor, além da autorização dos familiares, o transplante, no caso de doador morto, só pode ser realizado após um diagnóstico de morte cerebral. Em seguida, são realizados exames de sangue para garantir que o paciente não tem doenças infecciosas. Todo esse processo precisa ser feito em um curto espaço de tempo — o transplante de coração, por exemplo, deve ser feito em até 4 horas; o de fígado, em até 8 horas e o de rim, em até 24 horas. 

Outro projeto que tramita é do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), que determina que o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilize imunossupressores para os pacientes que receberam um órgão. O objetivo de aumentar a taxa de sucesso do transplante e proteger a vida do paciente, já que a função desses medicamentos é evitar a rejeição do órgão transplantado.   

“Sabe-se que esses medicamentos são fundamentais para o sucesso do procedimento, haja vista que impedem fenômenos imunológicos como a rejeição do órgão transplantado ou a doença enxerto versus hospedeiro, no caso dos transplantes de medula óssea”, afirma o senador.

 

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