Alunos da alfabetização foram os mais prejudicados na pandemia
As crianças em fase de alfabetização tiveram a maior queda de aprendizagem entre todas as séries avaliadas em 2021 por causa da pandemia. Aos 8 anos, quando elas já deveriam estar sabendo ler e escrever plenamente, muitas não conseguem ainda localizar uma informação explícita no final de um texto curto, de duas linhas. Os dados são do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) divulgados ontem, pelo Ministério da Educação (MEC).
A queda foi maior ainda do que a registrada no 5º, 9º ano e ensino médio. Essa foi a segunda vez que o MEC realizou a prova com estudantes do 2º ano. A perda foi de 24,5 pontos no exame, que é amostral, de Português. O melhor desempenho foi registrado no Estado de Santa Catarina, seguido do Distrito Federal e de São Paulo. A mais baixa foi a aprendizagem registrada no Acre.
Em Matemática, os alunos do 2º ano também tiveram queda na aprendizagem, mas um pouco menor que em Português, de 9 pontos. Os Estados com melhor desempenho foram Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo. O pior foi registrado no Sergipe.
Pela média registrada em 2021 em Português, de 725,5, muitos alunos não são capazes de escrever um texto de um convite para uma festa, por exemplo. Também não conseguem escrever de forma correta uma palavra de três sílabas.
Dobrou ainda a porcentagem de alunos que estão nos níveis mais baixos de desempenho em leitura e escrita, de 15% para 34%. Esse grupo inclui desde crianças que sequer conseguiram responder à prova e outras que não são capazes de relacionar o som de uma consoante ao seu formato escrito.
Esta é a principal avaliação de educação do Brasil e que traz pela primeira vez o retrato oficial do retrocesso causado pelas escolas fechadas e ensino remoto. Apesar da importância, há ressalvas de especialistas por causa do índice de participação ter sido baixo justamente em virtude da pandemia. "A realização foi um grande desafio, esforço conjunto entre União, Estados e municípios. A aplicação foi exitosa", disse o ministro da Educação, Victor Godoy. A ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Helena Guimarães de Castro, presente à coletiva no MEC, afirmou pelas peculiaridades da pandemia e diferenças entre redes, "os dados deste ano não poderiam ser comparados".
Nos próximos meses, esses resultados serão tratados em evento público, bem como em relatório analítico, que já considerarão também as informações contextuais coletadas pelo Saeb 2021. Além disso, os microdados da edição serão divulgados até dezembro de 2022.
O Saeb é realizado desde 1990 pelo Inep. Trata-se de uma avaliação em larga escala que oferece subsídios para a elaboração, o monitoramento e o aprimoramento de políticas educacionais. Ele permite que as diversas esferas governamentais avaliem a qualidade da educação praticada no Brasil, a partir de evidências. Por meio de testes e questionários, a avaliação reflete os níveis de aprendizagem demonstrados pelo conjunto de estudantes que participam. Esses níveis são descritos em escalas de proficiência para cada uma das áreas e etapas avaliadas.
IMPACTOS DA PANDEMIA
A aplicação foi estruturada para manter a comparabilidade com as edições anteriores. Entretanto, o contexto educacional atípico imposto pela pandemia de covid-19, que, para além do período de suspensão das atividades de ensino, levou boa parte das escolas a adotarem novas mediações de ensino e a reverem seus currículos e critérios, teve reflexos na avaliação. Nas duas últimas edições do Censo Escolar (2020 e 2021), o Inep apurou dados sobre a “Resposta educacional à pandemia de covid-19 no Brasil”, com o objetivo de compreender as consequências da crise sanitária na educação.
Um formulário específico foi desenvolvido, com o intuito de coletar informações sobre a situação e as estratégias adotadas pelas escolas para o enfrentamento da pandemia. A pesquisa mostrou que 92% das escolas de educação básica, público-alvo do Saeb, adotaram estratégias de ensino remoto ou híbrido e 14,45% ajustaram a data de término do ano letivo. Além disso, nesse universo da educação básica, 72,3% das escolas recorreram à reorganização curricular para priorizar habilidades e conteúdos. Já o “continuum curricular” foi adotado por 17,2% das escolas. A estratégia implica a criação de uma espécie de ciclo para conciliar anos escolares subsequentes com a devida adequação do currículo. Dessa forma, as escolas teriam dois anos para cumprir os objetivos de aprendizagem.
Com informações da Agência Estado
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