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Roupeiro Chapéu: "Ainda sonho com a Internacional"

Joel Ferreira Pinto trabalhou 25 anos no Leão

Roupeiro por 25 anos da Internacional, Joel Ferreira Pinto, o "Chapéu" faz parte da história do clube. Trabalhou nos áureos tempos da Veterana e participou de todas as principais conquistas, como o Paulistão de 1986, a Série B do Campeonato Brasileiro de 1988 e a Série A-2 de 1996.
Chapéu, apelido que ganhou do meia Toinzinho na década de 80, disse que sonha até hoje com a Internacional. "Sonho que estou na minha sala, separando o material dos jogadores. Passei boa parte da minha vida no Limeirão. Jamais esqueço", disse. Sem contar as viagens, pois conheceu os principais estádios do país.
Em entrevista exclusiva ao programa Pimba nos Esportes da Melhor FM, Chapéu disse que até hoje acompanha o Leão e faz questão de pagar ingresso. "Meu filho Carlão me leva ao Major Levy. Tenho receio de entrar no saguão do Limeirão. Fico meio acanhado. Por isso, escolho a arquibancada mesmo. Hoje sou torcedor", ressaltou.
Nascido em Ouro Fino, Minas Gerais, Chapéu veio para Limeira em 1980, depois de se cansar de trabalhar na roça. Ele acompanhou seus irmãos, que vieram tentar a sorte aqui. Um deles, o Ivo, passou a trabalhar no Limeirão. Já Chapéu foi para a Prefeitura. "Fiquei apenas dois meses e já me passaram para o estádio. O roupeiro que estava na Inter foi embora e abriu essa vaga para mim. Minha história no clube passou a ser construída", contou.
Constituiu também uma linda família com a saudosa Aurora, que nos deixou há sete anos. Foram 42 anos de casado. É pai de Carlão, Sione e Simone e avô de Pedro e Kevin. Aliás, é o xodó de todos, que têm um enorme ogulho do chefe de família.
Chapéu, que ainda não tem um título de Cidadão Limeirense, afirmou que nunca foi homenageado pela Inter, mas que não tem problema algum, pois sempre amará o time.

Como era seu estilo como roupeiro?
Sempre fui organizado. Na minha salinha mandava eu. Chegava bem cedinho e só ia embora para casa à noite. Vivia mais no Limeirão do que com minha família. Respeitava todo mundo e os jogadores me respeitavam também. Em alguns casos a gente precisava ser mais duro, mas sempre com respeito. Nunca fiz inimizades.
Qual jogador você tem mais saudade?
Meu melhor amigo sempre foi o Silas. Gostava demais daquele goleiro, que foi campeão em 1986. A gente tinha uma grande afinidade. Ele me tratava de forma diferente dos demais. Já o Carlos Silva, outro campeão daquele ano, era o mais engraçado. Divertia nosso ambiente.
E qual foi o técnico que mais você gostou?
Gostava do Levir Culpi, mas o melhor foi o seu Pepe. O nosso tratamento era de pai para filho, tanto é verdade, que quando ele deixou a Internacional, quis me levar para o Japão. Só não fui por causa dos meus filhos. O roupeiro Bezerra que foi no meu lugar ficou rico.
O Richard Drago realmente era bravo?
Sempre foi valentão. Entrava muitas vezes bravo no vestiário, principalmente quando o time perdia. Eu ficava quieto no meu canto, só olhando as duras. Não tinha medo dele, pois sempre fazia as coisas certas. Todos os presidentes sempre me respeitaram na Inter.
Você presenciou alguma briga?
Discussão foram várias. Agora, briga mesmo foram duas, ambas com o Bolívar. Nosso xerife realmente era bravo. Teve uma vez que ele bateu no Salomão dentro do campo e no vestiário. Eu fiquei só assistindo na minha sala. Não tinha como separar. O Salomão levou a pior nessa. Ficou todo unhado. Vi também o Bolívar pegando o saudoso Pecos. Para você ter uma ideia, o Pecos ficou com tanto medo que saiu por trás do Limeirão para não cruzar com o xerife no estacionamento.
Você se dava bem com a imprensa também?
Gostava muito do narrador Edmundo Silva. A Voz Metálica sempre me mandava um abraço na rádio quando eu fazia aniversário. Tinha também o Naldinho e o César Roberto. Convivia bem com todos eles.
O que você lembra da final de 1986 no Morumbi?
Confesso, estava tranquilo naquele dia. Eu tinha certeza que a Inter seria a campeã paulista. O empate sem gols no primeiro jogo, diante de 104 mil pagantes, nos fortaleceu ainda mais. O clima era muito positivo. Não tinha como dar errado. Naquele jogo decisivo eu fiquei atrás do gol onde justamente saíram os gols do Kita e do Tato. Eu pulava muito. A gente merecia aquele título. Pedi até para o saudoso Gilson Gênio ficar cuidando do vestiário no meu lugar para eu participar da festa.
Você participava dos bichos?
Os jogadores faziam questão de dar um dinheirinho extra para mim após as vitórias. Faziam até vaquinha. Uns colocavam no meu bolso. Outros entregavam na minha mão. Naquele tempo a Inter pagava um valor bacana para os resultados positivos. Mas tinha os "mãos de vaca" que não davam dinheiro de jeito nenhum.
E quando a Inter jogava com o Santos, seu time do coração?
Eu torcia pelo empate. Só não conheci o Pelé. Via só pela televisão. Cheguei a ter coleção de camisas, mas acabei com tudo. Eram mais de 30. Vendi tudo, entre elas uma do Sporting de Portugal que ganhei do João Luís, lateral. Hoje tenho guardado a camisa de 1986, a medalha e a faixa de campeão. Só isso.
Qual foi seu último ano na Internacional?
Foi em 2003. O gerente de futebol Júnior Barros trouxe um roupeiro do Rio Branco e queria me passar para o Clube de Campo. Fui conversar com o presidente da época, que era o Wagner Barbosa. Ele ficou de ver minha situação. Nesse meio tempo eu aposentei e me mandaram embora. O técnico era Pintado. Essa talvez seja a única tristeza que tive em 25 anos de Internacional.
Hoje como é seu dia-a-dia?
Acordo às 8h30 e eu mesmo faço o café. Modéstia à parte, faço bem. O almoço é minha filha que faz. A tarde assisto televisão. Tomo meu banho, assisto o Datena na Bandeirantes, janto, vejo meus jogos e vou dormir para sonhar com a Inter novamente. Sou um homem realizado, pois a vida toda fiz o que gostava e construi uma linda família.

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