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Estudante que descobriu 25 asteroides recebe prêmio da Nasa

É entre microscópios e telescópios que a estudante de medicina Verena Paccola Menezes, de 22 anos, passa boa parte de seu tempo. Se, por um lado, o primeiro instrumento a ajuda nos caminhos que trilha para se tornar uma neurocirurgiã, é pelo telescópio que ela anteviu uma outra possibilidade: a medicina espacial, paixão que surgiu após, nos momentos de hobby, ter descoberto 25 asteroides. Um deles, classificado como raro pela órbita diferenciada que poderá colocá-lo na direção da Terra. Nos momentos livres, Verena é uma “caçadora de asteroides”. Mas a verdade é que ela, desde criança, sempre se considerou uma cientista.

“A ciência sempre esteve presente na minha vida. Nem lembro quando comecei a me interessar. Brinco que já nasci cientista porque, para mim, fazer ciência e ser cientista é fazer perguntas, questionar o mundo e ir atrás das respostas por conta própria, sem se contentar com o superficial. Sempre vivi dessa forma. Sempre fui uma criança muito curiosa para descobrir o mundo”, disse a estudante de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que é também técnica de Enfermagem.

Verena ganhou o primeiro microscópio quando tinha apenas 4 anos de idade. “Eu o levava como brinquedo para a escola, enquanto minhas amigas levavam bonecas e jogos”, lembra. O telescópio veio um pouco depois, aos 8 anos. “Tenho ele até hoje no meu quarto principalmente para olhar a Lua”, disse a estudante, que há dois anos cursa a faculdade da USP em Ribeirão Preto, onde faz pesquisas sobre Alzheimer.

Em 2019, a jovem representou o Brasil na Assembleia da Juventude nas Nações Unidas (ONU) e se mudou para o Canadá, onde iniciou graduação em neurociência. “Só que sempre sonhei em fazer medicina na USP, o que acabou voltando aos meus planos após ter de retornar ao Brasil porque, em termos financeiros, estava inviável continuar no Canadá”.

Recomeço

O problema é que a jovem, que já era uma pesquisadora, teve de começar tudo de novo, para entrar na USP. “Fazia muito tempo que eu tinha feito o curso médio, e já não lembrava bem do conteúdo. Tive de reaprender tudo do zero. Não foi uma fase legal, depois de fazer tanta pesquisa, voltar a estudar as matérias do ensino médio. Vivi muita pressão”.

Ela fez então todo um treinamento que a capacitou para o novo hobby. “Gostei muito disso. Depois de capacitada, comecei a usar o software que eles usam para caçar asteroides. Eu recebia imagens tiradas por um telescópio do Havaí. Cada pacote de imagens feitas pelo telescópio era composto de quatro imagens tiradas com diferença de segundos. Eu pegava esse pacote de imagens e o jogava no software que as piscava seguidamente, em ordem. Como elas tinham diferença de tempo, dava para perceber se alguma coisa se movia no Espaço”.

Quando Verena encontrava algum pontinho se movimentando, fazia a análise numérica do objeto para ver se ele se encaixava nos padrões de um asteroide. Caso o resultado fosse positivo, ela gerava um relatório e o enviava para o centro internacional que estuda isso em Harvard (EUA).

Foi dessa forma que ela descobriu nada menos que 25 novos asteroides. Diante do feito, foi convidada, em dezembro do ano passado, a receber uma medalha de ordem ao mérito, dada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, em Brasília, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Asteroide raro

“Acabei recebendo mais que uma medalha. Quando achei que a premiação tinha acabado, me chamaram novamente ao palco para receber um troféu. Foi ali que me contaram que eu havia descoberto um asteroide importante e raro, que segue uma órbita diferente em torno do Sol”.

Normalmente os asteroides do Sistema Solar estão localizados entre Marte e Júpiter, onde fica o chamado Cinturão Principal. Um dos asteroides descobertos por Verena seguia uma órbita diferente da dos demais, o que aumenta as possibilidades de sua rota coincidir com a do planeta Terra.

“Agora a gente tem de ver para onde ele está indo, de forma a prever possíveis impactos com a Terra. Não sei se isso vai acontecer. A possibilidade existe, mas se a gente olhar para as dimensões do Universo, vemos que a probabilidade é muito pequena”, diz ela, esperançosa de que sua descoberta não seja algo apocalíptico semelhante à história contada no filme Não Olhe para o Cima, na qual uma pesquisadora descobre um cometa com rota em direção a Terra, que dará fim à vida no planeta.

“Fiquei chocada com esse filme. Ele é muito bom até do ponto de vista científico. É também o retrato da sociedade e da mulher na ciência. Claro que me identifiquei muito com a personagem por também ser uma mulher na ciência. E, na ciência, as mulheres, além de não serem ouvidas, vivem em um contexto no qual é o homem quem leva a maioria dos créditos. No filme, ela inclusive foi tachada de louca”.

Futuro

As oportunidades abertas pela astronomia à estudante de medicina estão fazendo-a repensar os planos para o futuro. “Tenho certeza de que realizarei o sonho de me formar em medicina. Estou no segundo ano do curso e tudo segue para que eu faça residência em neurocirurgia”, diz a caçadora de asteroides. “Só que agora eu tenho uma pulga atrás da orelha”, acrescentou.

Essa “pulga” foi colocada pelo presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Moura. “Depois da premiação em Brasília, visitei a agência. Lá, ele me falou sobre medicina espacial, que até então eu não conhecia porque não é uma área muito divulgada aqui no Brasil como especialização”. “Por enquanto, vou continuar caçando asteroides e, se tudo der certo, ser também treinadora de caçadores de asteroides para que outras pessoas façam o mesmo e formemos equipes. Planejo fazer isso pelo meu Instagram”, completou. (Agência Brasil)

 

Agência Brasil

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