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Semana de mobilização para doação de medula óssea tem apoio de deputados

Entre os dias 14 e 21 de dezembro acontece a Semana de Mobilização Estadual para Doação de Medula Óssea. Implantada a partir da Lei 16.386/2017, de autoria do ex-deputado Ed Thomas, a campanha propõe que no período sejam desenvolvidas atividades que esclareçam sobre a doação de medula e a importância de ser um doador.

A medula óssea é um tecido gelatinoso que fica no interior dos ossos e é nela em que são produzidos componentes importantes para o funcionamento do corpo: glóbulos vermelhos (hemácias), responsáveis pelo transporte do oxigênio dos pulmões para as células de todo organismo e também do gás carbônico das células para os pulmões; glóbulos brancos (leucócitos), são os agentes que defendem o corpo das infecções; e plaquetas, que compõem o sistema de coagulação do sangue.

O Transplante de Medula Óssea (TMO) consiste na substituição da medula doente por uma saudável. Esse tratamento é proposto para pacientes de doenças que afetam as células do sangue, como leucemias, anemia aplástica e linfomas. É importante lembrar que os cânceres podem ocorrer em qualquer fase da vida, desde o nascimento até idades muito avançadas.

Carmino Souza, médico e coordenador dos Comitês Científicos da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), falou sobre um fator relevante na busca de doadores. ''Por ser miscigenado, o Brasil tem uma vantagem biológica importante em termos de sociedade e ciência, mas, de certo modo, a desvantagem acontece no encontro de doadores compatíveis. A probabilidade de acharmos um doador ao acaso é de 1 para cada 100 habitantes.''

O médico ainda comentou sobre a evolução nos processos. ''Hoje em dia, as opções de doadores que não são completamente compatíveis, normalmente os pais, mães e outros graus de parentesco, são possíveis graças à evolução nos processos de transplantes, o que não era possível na época em que foi instituído, meados dos anos 60 e 70, em que os doadores eram exclusivamente aparentados, geralmente irmãos, e completamente compatíveis'', disse o especialista, que atua há mais de 40 anos na área.

É o que aconteceu com a estudante Gabriely Bissiato, de 20 anos, que descobriu que tinha leucemia em julho deste ano ao passar mal no trabalho. ''Entrei no hospital em uma quinta-feira e no sábado já começaram as sessões de quimioterapia. Foi tudo muito rápido. Como os médicos alertavam, durante as consultas e conversas, que eu precisaria do transplante de medula, meus pais e meu meio-irmão fizeram o teste para compatibilidade. Todos achavam que meu irmão teria maior compatibilidade comigo, mas não foi o que aconteceu. Meu pai apresentou mais de 60% de semelhança biológica e vamos poder fazer o transplante em breve", contou a jovem.

Com a assistente social Priscila Donadio Candido, de 36 anos, foi um pouco diferente. Ela soube do câncer em abril deste ano e teve seus dois irmãos testados para o transplante de medula óssea. ''Uma irmã deu 100% de compatibilidade, enquanto o outro deu menos que 50%. O transplante aconteceu agora em 29 de outubro e salvou minha vida. Sem a doação, eu poderia ter morrido ou continuar com as sessões de quimio, que são devastadoras''. Ela ainda tranquiliza quem tem vontade de doar, mas tem receio ''Para quem doa é muito tranquilo, tanto o teste quanto o procedimento, e a pessoa ainda salva uma vida'', afirmou Priscila.

Já Pierre Cadu Santos, com 25 anos e hoje aposentado pelo INSS, foi diagnosticado com anemia aplástica em 2017, doença que precisava de transfusão de sangue a cada 15 dias, e após tentar dois tratamentos alternativos, o transplante de medula óssea virou uma necessidade e o jovem decidiu, nas palavras dele, arriscar viver, deixar de ter uma sobrevida. "Eu não conseguia fazer uma simples caminhada. Eu tive muita sorte. Conseguimos achar alguém, mas não sei quase nada sobre ele, apenas que é um homem nordestino, com mais de 30 anos e é 100% compatível comigo. Eu sinto que ganhei na loteria'', disse Pierre.

Pierre também relembra que ''o transplante só pôde ocorrer graças à equipe médica, ao homem que se cadastrou no banco de doação e decidiu doar no momento certo. Convivi com muitos pacientes que hoje não estão mais aqui, fico triste, mas isso me faz valorizar ainda mais o privilégio que tive de poder levar uma vida quase normal". Ele falou ainda que sempre insiste a todos que conhece para que doem sangue e medula óssea, pois isso pode salvar vidas. "Eu não estaria aqui se não tivesse recebido tantas doações'', disse.

Sobre os tipos de transplantes, Carmino Souza afirmou que existem três fontes importantes para a doação: 1) o sangue periférico, que é mobilizado a partir do doador e isso é feito com fatores de crescimento; 2) a clássica aspiração da medula óssea, onde o doador é sedado e há uma aspiração que coleta o necessário para o paciente; 3) sangue de cordão umbilical, que é usado em poucos casos''. O especialista ainda garante que ''o risco para o doar é praticamente zero. Todas as complicações para o doador que houveram foram raríssimas e foram sempre muito bem cuidadas pelos médicos do paciente. Em mais de 40 anos de profissão nunca vi uma complicação séria para um quem doou'', finalizou o médico.

A doação

Para se tornar um doador de medula óssea é preciso ter entre 18 e 55 anos de idade, bom histórico de saúde e não ter doenças transmissíveis pelo sangue. O candidato deve ir a qualquer hemocentro do país, munido de documento com foto, preencher um formulário e doar 5 ml de sangue para que as características genéticas possam ser identificadas.

As informações coletadas serão inseridas no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula O´ssea (Redome), que é um banco de dados para pacientes que não têm familiares que preencham os requisitos, e poderão ser cruzadas com as de algum paciente até aos 60 anos do doador. Quando houver compatibilidade, ambos serão avisados e consultados sobre a possibilidade de doação.

''Como a compatibilidade entre paciente e doador precisa funcionar em nível complexo e muitos têm dificuldades em encontrarem familiares compatíveis, existem, no mundo, diversos registros de doadores de medula óssea. O Brasil tem o terceiro maior registro de doadores e, atualmente, cerca de 70% dos transplantes realizados no país são realizados com doadores no Redome'', disse Danielli Oliveira, médica e coordenadora técnica do Redome. Ela ainda comentou que ''o Brasil também pega uma rede internacional de registros, com 38 milhões de doadores cadastrados. O que significa que quando um paciente não encontra um doador no Redome, a gente pode buscar um doador compatível com ele no registro internacional'', finalizou a doutora.

Outras medidas

Na Alesp, além do texto que instituiu a Semana de Mobilização Estadual para Doação de Medula Óssea, existem sete outras normas aprovadas sobre o tema: a Lei 13.764/2009, de autoria do ex-parlamentar Bruno Covas, cria no calendário estadual o Dia Estadual do Cadastro de Doadores de Medula Óssea em 6 de outubro.

Elaborada pelo ex-deputado Hamilton Pereira, a Lei 15.601/2014 institui o Programa Permanente do Transplante de Medula Óssea - PROMEDULA, que orienta doadores, receptores e profissionais de saúde sobre a doação, além de informar e sensibilizar a população sobre os processos.

O Sistema Paulista de Cadastro e Doação de Medula Óssea foi criado a partir da Lei 16.790/2018, de autoria do deputado Fernando Cury (sem partido). O objetivo da norma é conscientizar os doadores e, consequentemente, aumentar o número de doações e agilizar a identificação e localização do doador.

Por fim, a Lei 17.207/2019, elaborada pelo deputado Thiago Auricchio (PL), institui a campanha Fevereiro Laranja no calendário paulista para que possam ser realizadas mais ''ações educativas de conscientização para o diagnóstico precoce e tratamento da leucemia, ressaltando a importância da doação''. Além dos textos já aprovados, nesta Casa legislativa tramitam pouco mais de 60 projetos de lei com a mesma temática.

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