
Um lugar de genialidade para mulheres
Queridos e amados leitores,
Nesta semana comemoramos o Dia Internacional das meninas e
mulheres na Ciência. Fiquei imaginando como seria se nas escolas brasileiras
pudéssemos parar celebrar a inteligência e desenvolvimento realizado por
meninas. Não se trata de ser feminista, mas ir contra uma maré que coloca a
mulher brasileira como objeto de prazer, quando temos tanto a oferecer
intelectualmente. Ir contra a maré que vê a mulher brasileira como frágil,
instrumento de posse e por isso mata-se como se matasse uma formiga.
Dados do Ministério de Ciências, tecnologia e inovação
apontam que o Brasil é o terceiro país com avanços em desenvolvimento
científico por mulheres. Fica atrás apenas da Argentina e de Portugal.
Entretanto, embora muitas sejam pós-graduadas, fazem parte apenas de um
contingente de 20 % de contratações das grandes empresas de tecnologia.
Me pergunto o que há de errado nisso se todas as crianças
nascem com uma proporção gigante de inteligência? Por qual razão o nível de
genialidade cai substancialmente ainda na primeira infância? Piaget estudou a
epistemologia genética para entender como os saberes das crianças evoluem entre
os seres humanos até se tornar conhecimento, assim como Wallon percebeu que a
interação com o mundo é a maior fonte de desenvolvimento. Vygostsky foi mais
além, pontuando que a interação do conhecimento com alguém mediando é o caminho
mais assertivo para o desenvolvimento e aquisição do conhecimento.
Embora com estudos diferentes, o consenso que eles têm é que
a criança aprende quando se movimenta, interage, toca, manuseia, ou seja, é
posta como protagonista das ações. Enquanto as mais passivas ou cerceadas,
tendem a se desenvolver menos. Ou seja, a inteligência da criança só cresce se
houver interação com o mundo que as rodeiam. E pode ser muito maior, se forem instigadas.
Se a sociedade determina o nível de inteligência das nossas
crianças e posteriormente, jovens a adultos, o que estamos fazendo de errado
para que nossas crianças percam essa genialidade? Até quando vamos considerar
as meninas com menor inteligência que os meninos, limitando-as a feitos
grandiosos quando são capazes disso?
Talvez não seja o que estamos fazendo, mas o que não estamos
fazendo, que é não colocar a criança como protagonista no desenvolvimento dos
saberes de forma prática. Isso me lembra uma menina que “bombou” nas redes
sociais por explicar como fazer “uma cesariana” para extrair seus pintinhos,
após passar o prazo de saírem dos ovos. Ela não só explica o que é feito, ela
realiza, participa, põe as mãos nos animais, mostra como tem que ser feito tudo
desde a higienização, aprende a quebrar a casca do ovo e depois de extraído,
proteger aquele animal. Aquela criança brinca com os animais num ensaio para a
vida!
Ainda somos uma sociedade que permite aos meninos subirem
nas árvores, correr soltos ao vento, soltar pipa, dirigir o primeiro carro aos
4, 5 ou 6 anos. Essa mesma sociedade que pede às meninas que brinquem de boneca.
E não há nada errado com uma criança brincar de boneca, mas podemos também
dizer às nossas meninas que elas podem subir em árvores, podem andar de skate,
podem soltar pipa e se desejarem escolher as aulas de ballet. O que não
podemos, é dizer às meninas que elas não devem fazer algo porque não conseguem,
considerá-las frágeis e fracas somente porque são mulheres. Todo incentivo
importa para construir a crença do que cada criança acredita sobre si mesma.
Se acreditarmos que o Brasil pode ter grandes cientistas, se
incentivarmos as nossas crianças a irem além do que a sociedade vê sobre elas
mesmas, se permitirmos um lugar de genialidade para as nossas mulheres, veremos
este país se tornar referência em saberes. Quando isso acontecer, a vida de
todos melhorará ao que tange em qualidade de vida, desenvolvimento de cura para
doenças, soluções práticas que elevem a estiva da nossa sociedade como uma
nação que não ficará deitada em berços gloriosos, mas de pé diante da potência
que tem.
Beijos de luz!
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