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Conjecturas

"O homem que não é senhor de si mesmo, que é levado pela paixão e pelo desejo, será o servo mais submisso, porque seus desejos o tornarão um escravo." (Platão)

 

A frase "se quer conhecer uma pessoa, dê poder a ela" é um provérbio que sugere que o verdadeiro caráter de uma pessoa é revelado quando ela tem poder e autoridade. Essa ideia está enraizada na observação de que quando alguém tem controle ou influência sobre os outros, suas verdadeiras intenções, ética e valores se tornam aparentes.

Ninguém foge de si mesmo.

Não há quem consiga se esconder por muito tempo. Como eu costumo dizer: a verdade é muito potente, sendo assim não é possível contê-la ou impedi-la de se mostrar por muito tempo.

Quando uma pessoa adquire poder, ela passa a ter capacidade de tomar decisões que afetam outras pessoas. Essa posição pode trazer à tona tanto o melhor quanto o pior de alguém. Uma pessoa íntegra usará o poder para o bem comum, enquanto alguém com intenções egoístas pode se aproveitar da sua posição para benefício próprio. Tudo é um reflexo de seu mundo interno. As ações são produções da mente.

Penso sempre na implacável tomada de consciência, da qual nenhum de nós pode fugir, quando me deparo com os desvios de caráter que o poder inevitavelmente revela.

Em "Coração das Trevas" escrito por Joseph Conrad, publicada em 1899, há uma cena que me marcou muito e certamente marcou a todos que o leram quando Kurtz, doente e à beira da morte, murmura suas últimas palavras enigmáticas: "O horror! O horror!" Essas palavras refletem sua tomada de consciência sobre a profunda escuridão dentro de si e do mundo ao seu redor. A obra é frequentemente elogiada por sua escrita evocativa e por sua capacidade de explorar os aspectos mais sombrios da alma humana.

De suas escuridões ninguém foge.

Dizem que ética é o que você faz quando ninguém está vendo. Eu ouso dizer que sua ética (ou a ausência dela) se revela quando você tem poder nas mãos. O poder tem o poder de revelar as verdades. O poder é um teste de caráter e integridade.

A essência da ética está na coerência entre os valores internos de uma pessoa e suas ações diárias, independentemente da vigilância ou julgamento externo. Quando agimos de maneira ética sem a presença de espectadores, demonstramos um compromisso autêntico com nossos princípios. Isso significa que a nossa moralidade não é uma performance para os outros, mas uma parte intrínseca de quem somos.

Num mundo onde as aparências e a guerra pelo poder muitas vezes têm um peso exagerado, essa ideia nos convida a refletir sobre nossas motivações internas. A ética verdadeira é testada nas pequenas decisões cotidianas, quando a tentação de seguir um caminho mais fácil ou menos honesto surge. Optar por fazer a coisa certa quando ninguém está olhando revela a força de nossos valores e a profundidade de nosso compromisso com a justiça, a honestidade e a compaixão.

 

Além disso, essa abordagem da ética promove um senso de responsabilidade pessoal. Quando entendemos que nosso comportamento ético não depende do olhar alheio, reconhecemos a importância de sermos nossos próprios guardiões morais. Isso fortalece a nossa capacidade de agir com integridade em todas as situações, cultivando um ambiente de confiança e respeito mútuo.

Em suma, ética é viver de acordo com princípios, não importa as circunstâncias. A verdadeira moralidade é uma questão de consciência e integridade pessoal, e que as ações realizadas no silêncio e na escuridão revelam a verdadeira natureza de nosso caráter.

Quero terminar citando um trecho de Macbeth, meu favorito deste que foi, em minha humilde opinião, um dos maiores conhecedores da essência humana e que, com genialidade e encanto, ilustrou as infinitas veredas e alamedas do ser humano em sua obra de incalculável valor:

"As coisas más que fizemos ensinariam a nós mesmos a não fazer mais delas."

(Willian Shakespeare)

 

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