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A Substância : terror aproxima Demi Moore do Oscar

Por Farid Zaine

@farid.cultura

 

Jane Fonda, uma das maiores atrizes americanas de todos os tempos, no esplendor de sua maturidade, foi para a TV fazer um programa em que estimulava as mulheres a fazerem exercícios físicos. Um sucesso. Fonda, mulher corajosa e ativista, sempre soube aproveitar seu talento e sua capacidade de demonstrar que o etarismo deve, sim, ser combatido. Impossível não associar a imagem da estrela de clássicos como “A Noite dos Desesperados” (They Shoot Horses, Don´t They?), que está na minha lista de melhores de todos os tempos, com a personagem de Demi Moore em “A Substância”, filme que vem fazendo grande sucesso desde sua estreia em Cannes em 2024, quando competiu pela Palma de Ouro. No longa “A Substância”, da diretora e roteirista Coralie Fargeat, temos a história de uma ex-estrela de cinema, Elizabeth Sparkle, papel de Moore, que depois de uma carreira bem-sucedida em Hollywood, passa a ser apresentadora de um programa de ginástica na TV, conquistando grande audiência. Quando completa 50 anos, a emissora, comandada por um troglodita não por acaso chamado Harvey (o ótimo Dennis Quaid) – referência explícita a Harvey Weinstein -, quer substituí-la por uma mulher mais jovem. Sparkle, em desespero, resolve se submeter a uma determinada “substância” que, se injetada em seu corpo, faria sair dele a “melhor versão” dela mesma, segundo anunciava o tal produto. Ela se deixa levar pela experiência, usa a substância, e de seu corpo sai uma linda jovem, de corpo perfeito, aparentando 20 anos de idade. Essa garota, que é a própria Sparkle, será a nova apresentadora do programa, usando o nome de Sue e encantando a todos, especialmente os “babões” magnatas do entretenimento.

O uso da substância, contudo, estabelece duras regras que, se descumpridas, acarretarão em sérias consequências para quem as desobedece. Veremos, então, uma verdadeira guerra entre a mulher madura vivida por Demi Moore, e sua versão jovem, interpretada por Margaret Qualley. Essa “guerra” movimentará o filme todo ao longo da maior parte dos seus 140 minutos de duração, num embate feroz que não dá descanso ao espectador. Coralie Fargeat, que assina a direção e o roteiro, soube usar com maestria o que vem sendo chamado de “terror físico” ou “horror corporal”, como diz o original “body horror”. E a diretora chegou longe: seu filme conseguiu uma raridade para o gênero, isto é, concorrer ao Oscar em 5 categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz para Demi Moore. “A Substância” tem muito a dizer com suas imagens chocantes e a violência sem limites, que acabam por compor uma crítica aos procedimentos de rejuvenescimento, alguns com capacidade de provocar mutilações irreversíveis, bem como ao machismo reinante no universo do entretenimento, quando as pressões sobre aspecto físico recaem principalmente sobre as mulheres; o filme também levanta a bandeira do etarismo, quando mostra que , principalmente no caso das atrizes, os espaços para trabalho diminuem consideravelmente com a idade. Nesse aspecto, vale lembrar outro clássico, a obra-prima de Robert Aldrich “O Que Terá Acontecido a Baby Jane”, de 1962, em que duas das maiores estrelas de Hollywood de todos os tempos, Bette Davis e Joan Crawford, já quase sexagenárias na época, interpretam duas irmãs, também estrelas de cinema do passado, num terror psicológico extraordinário. A história dessa filmagem no início dos anos 1960, gerou outra preciosidade, a série “Feud – Bette and Joan”, espetacular criação de Ryan Murphy explorando a célebre rivalidade entre Davis e Crawford, interpretadas respectivamente por Susan Sarandon e Jessica Lange.

“A Substância” concorre em 5 categorias do Oscar 2025: Filme, Direção, Atriz, Roteiro Original e Maquiagem e Cabelo. Demi Moore é forte concorrente para nossa Fernanda Torres, soberba na interpretação de Eunice Paiva no longa “Ainda Estou Aqui”. Torres, diga-se, merece levar a estatueta para alegria do Brasil. Acontece que Demi Moore, que realmente está excelente em “A Substância”, tem comovido os votantes da Academia com seu discurso de “superação”, que ela usou ao vencer o Globo de Ouro como Melhor Atriz em Comédia ou Musical, e que vem repetindo em outras premiações. Em suas falas, Moore destaca seu sofrimento ao ser chamada de “atriz pipoca”, algo como uma atriz de filmes de sucesso, mas sem relevância artística. O discurso está colando. Outra forte concorrente a Melhor Atriz, Mikey Madison, viu crescer seu nome nas apostas nas últimas semanas, quando seu filme, “Anora”, ganhou diversos e importantes prêmios. “A Substância” vem recebendo elogios da crítica por todo o mundo, com destaque para os temas abordados nesse “body horror”, que incluem as pressões sobre as mulheres para manter a aparência jovem, a crítica aos procedimentos de rejuvenescimento, ao etarismo, ao machismo e à misoginia. Não é pouco.

A SUBSTÂNCIA – (USA, 2024) – Direção de Coralie Fargeat – com Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid – Em cartaz nos cinemas e disponível no streaming.

Cotação: **** MUITO BOM

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